Literacia financeira

Educação financeira: O que ensinar em cada idade

Quer ensinar educação financeira ao seu filho, mas não sabe que conceitos transmitir em cada idade? Deixamos aqui algumas dicas.

Literacia financeira

Educação financeira: O que ensinar em cada idade

Quer ensinar educação financeira ao seu filho, mas não sabe que conceitos transmitir em cada idade? Deixamos aqui algumas dicas.

Em Portugal, a educação financeira das crianças recai quase na sua totalidade sobre os pais. Embora o nível de literacia financeira tenha subido consideravelmente no nosso país e até a educação financeira tenha sido testada na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, os pais são responsáveis por ensinar matérias que nem sempre estão à vontade.

E muitas vezes, as principais dificuldades não estão associadas à falta de conhecimentos de conceitos financeiros, estratégias de gestão/poupança e até de assuntos mais complexos. Na maioria das vezes a grande dificuldade é identificar quando ensinar o quê.

Afinal, nem todas as idades parecem apropriadas para ensinar certos conceitos. Mas na realidade, é possível adaptar os conceitos básicos de literacia financeira a várias faixas etárias. Contudo, isto não significa que não existam conceitos mais pertinentes para certas idades do que outros. E, por isso, vamos mostrar-lhe como ensinar educação financeira aos seus filhos conforme vão crescendo até à fase adulta.

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Introdução da educação financeira

A introdução da educação financeira na vida de uma criança nem sempre é fácil para os pais. Afinal, o dinheiro era um tema tabu até há alguns anos em muitas casas portuguesas. E como muitos adultos não tiveram estes ensinamentos em criança, não sabem bem como abordar esta temática com os mais pequenos.

E se este é o seu caso, comece por tirar o peso desta temática. Lembre-se que o dinheiro é algo que nos acompanha ao longo da vida e afeta a maioria das nossas decisões. Por isso, este é um tema que deve ser tratado com naturalidade desde sempre.

Embora não exista uma idade pré-definida para introduzir a educação financeira na vida dos seus filhos, quanto mais cedo o fizer melhor. Muitos especialistas defendem que a idade ideal para introduzir os primeiros conceitos ronda os 2 ou os 3 anos idades. E caso esteja a pensar que é cedo demais, saiba que é nesta altura que as crianças desenvolvem o seu processo de seleção de consumo. Ou seja, começam a pedir coisas específicas aos pais.

Claro que nestas ideias a introdução do tema será feita de forma superficial, apenas para ir incutindo noções.

Assim, estas são excelentes ocasiões para introduzir alguns dos conceitos básicos de educação financeira. Ao contrário do que pode pensar, falar de dinheiro com as crianças não é tão difícil como parece. Nestas idades, as crianças absorvem os ensinamentos como "uma esponja". Se introduzir de forma simples e positiva uma relação saudável com o dinheiro e com o consumo, o seu filho irá perceber facilmente a importância de gerir bem o dinheiro.

Para facilitar esta tarefa, use exemplos práticos que a criança consegue visualizar. Além disso, recorra a contos, livros infantis que abordem questões de literacia financeira, etc.

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Conceitos básicos de educação financeira entre os 3 e os 5 anos

A educação financeira infantil deve começar por abordar conceitos básicos, como por exemplo de onde vem o dinheiro e para o que é que este serve. Entre os 3 e os 5 anos de idade, as crianças têm a capacidade de perceber bem estes conceitos, se forem explicados de forma simples. Além disso, também pode introduzir o que são bons hábitos de consumo nas idas às compras.

No entanto, lembre-se que os seus filhos não terão a capacidade inata para perceber como funciona o dinheiro. Afinal, eles não têm referências e, muitas vezes, assumem que o dinheiro simplesmente aparece. Assim, comece por explicar que o dinheiro não nasce nas árvores. Este é fruto do trabalho dos pais.

Aproveite também este momento para explicar o valor do dinheiro. Ou seja, que o dinheiro permite adquirir coisas. Pode dar o exemplo que os pais trabalham todos os meses e no final do mês recebem o ordenado. Com esse dinheiro pagam a comida, a casa, e outros exemplos que a criança consiga entender sem esforço.

Nestas idades pode ainda explicar superficialmente alguns bons hábitos de consumo e o porquê de não poder comprar tudo aquilo que quer. Reiterar apenas que, nesta fase, são apenas noções, estes temas devem ser desenvolvidos a partir dos 6 anos.

Dos 6 aos 9 anos o foco deve ser o consumo e a poupança

Nesta faixa etária, as crianças entram para a escola e começam a aprender os números e a fazer contas. E ao dominarem estas matérias, a capacidade de entenderem alguns conceitos aumenta substancialmente.

Por exemplo, quando as crianças já estão familiarizadas com o facto de o dinheiro ser limitado, pode introduzir o conceito de preço. Através deste conceito pode mostrar que existem produtos caros e baratos, e é fundamental saber diferenciá-los. 

Nesta idade também deve abordar a diferença entre compras por necessidade e por desejo. Embora nem sempre seja fácil uma criança identificar esta diferença, explique que as compras essenciais são aquelas que precisa para viver no dia a dia.

No entanto, para reforçar esta lição de educação financeira, chame a atenção para o facto de as compras essenciais serem prioritárias. Já as compras por desejo devem sempre vir em segundo plano. Mas use exemplos que a criança consiga perceber.

Mostre que uma compra essencial são, por exemplo, os alimentos para cozinhar as refeições ou os produtos de higiene. Quanto às compras por desejo, pode usar o exemplo dos doces ou dos brinquedos. Pergunte-lhe o que é mais importante comprar: os alimentos ou um brinquedo?

No caso de fazer pequenas compras aproveite para o seu filho aprender a fazer pagamentos em dinheiro. Ajude a fazer os cálculos e a certificar-se do troco.

Por fim, neste intervalo de idade, também deve introduzir os princípios básicos da poupança. Uma forma simples ensinar as crianças a poupar é recorrer ao uso de um mealheiro. Explique ao seu filho que nem sempre poderá comprar aquilo que quer no momento. Logo, terá de poupar para essa compra. E por isso, sempre que tiver dinheiro em sua posse deve guardar algumas moedas no mealheiro.

Leia ainda: Estratégias para a gestão do mealheiro das crianças

Entre os 10 e os 12 anos coloque em prática a gestão de um orçamento

Quando os seus filhos entram para o 5.º ano de escolaridade, precisam de começar a fazer pequenas compras essenciais. Estas podem estar ligadas à alimentação na escola, mas também a materiais escolares. Logo, eles precisam de saber gerir pequenas quantias de dinheiro.

Embora nestas idades ainda seja cedo para as crianças terem acesso a valores elevados de dinheiro, isto não significa que entre os 10 e os 12 anos, não haja capacidade de gestão. No entanto, é aconselhável que a gestão comece a ser feita com pequenos valores, e seja aumentada progressivamente de acordo com as necessidades.

E como é que pode ensinar os seus filhos a gerirem estas pequenas quantias? Através de uma semanada. Uma semanada pode ser atribuída em dinheiro ou até em cartões pré-pagos. Explique porque é que está a dar este valor e onde é que ele o deve gastar. Depois deixe que seja o seu filho a gerir esse valor, mas acompanhe de perto as decisões financeiras que ele toma.

Uma forma de ajudá-lo a perceber melhor como deve ser feita esta gestão é reforçar estes ensinamentos com jogos que impliquem a gestão de dinheiro. Por exemplo, é possível retirar lições financeiras do jogo do monopólio através da tomada de decisões no decorrer do jogo. Se ele não tomar decisões de forma consciente, pode ir à falência. Contudo, existem mais jogos que podem ser úteis para perceber esta gestão, como é o caso do Jogo da Vida ou o The Sims. 

Se achar pertinente, também pode mostrar como gere o orçamento familiar e dar exemplos dos erros mais comuns na gestão deste orçamento.

Dos 13 aos 16 anos reforce alguns conhecimentos de literacia financeira

Dos 13 aos 16 anos, a maturidade aumenta consideravelmente. E por isso, todos os conceitos que passou ao seu filho devem ser reforçados e aprofundados. Afinal, com a entrada na adolescência, os jovens começam a ter um papel mais ativo nas decisões financeiras e, inevitavelmente, precisam de mais dinheiro para as suas necessidades e desejos.  

Assim, a introdução de uma mesada costuma ser a melhor opção para o seu filho gerir melhor o dinheiro. No entanto, é preciso ter atenção a alguns pormenores para que o seu filho não acabe a desenvolver maus hábitos de consumo e de gestão.  

Em primeiro lugar, a mesada tem um valor significativo que serve para o seu filho cobrir todas as suas despesas mensais. Logo, é normal que ao ter acesso a um montante mais elevado, exista a tendência de ceder a algumas compras por impulso ou por puro consumismo.  

E por isso, relembre-o que se ele priorizar as compras por desejo em vez das compras essenciais, não terá direito a um valor extra na sua mesada. Ou seja, a consequência da sua má gestão será ficar sem dinheiro para aquilo que ele realmente precisa. Sendo também essencial que ele cometa erros. Aprender a fazer uma boa gestão, implica aprender a gastar. Deixe-o errar, acompanhando-o sempre de perto.

Outro ponto importante é incentivar o seu filho a poupar mensalmente 10% do valor da mesada. Lembre-se que a educação financeira assume um papel fundamental para preparar os jovens para a vida adulta. E se o seu filho se habituar a poupar mensalmente, quando tiver os seus próprios rendimentos poderá manter facilmente esta estratégia de poupança.  

Embora desde tenra idade deva incluir o seu filho na gestão dos consumos dentro de casa, incentivando-o a poupar água, eletricidade, gás e a evitar desperdícios alimentares e não só, nesta fase deve aumentar as responsabilidades do seu filho nesta área. 

Leia ainda: Como poupar dinheiro da adolescência

A partir dos 16 a educação financeira deve ser idêntica à dos adultos

Por último, a partir dos 16 anos, o seu filho pode começar a ter rendimentos de um trabalho, seja este num part-time ou num trabalho nas férias, se houver essa vontade/necessidade. Logo, é essencial que ao longo dos anos ele tenha compreendido bem todos estes conceitos básicos da educação financeira e já está familiarizado com a gestão de um orçamento.

Mas como os conhecimentos de literacia financeira não terminam por aqui, a partir dos 16 anos o seu filho tem maturidade para processar a mesma informação que muitos adultos. Claro que deve procurar conteúdo descomplicado e temáticas apropriadas à idade ou aos seus interesses.

No entanto, é importante que ele comece a ter noção do que são investimentos, como funcionam os juros, e ter o primeiro contacto com a linguagem dos seguros e dos créditos. Afinal, se ele quiser comprar um carro terá de contratar um seguro e se quiser comprar uma casa, o mais provável e ter de recorrer a um crédito habitação.

Além disso, após os 16 anos explique ao seu filho como funcionam as contas bancárias. Nesta idade é provável que ele beneficie da isenção de comissões de manutenção e até da anuidade. No entanto, nos próximos anos esses benefícios começam a diminuir e ele terá que pagar comissões bancárias.

Por fim, explique que quando ele arranjar o seu primeiro emprego é muito importante criar um fundo de emergência para cobrir despesas imprevistas ou a quebra de rendimentos. Estes são apenas alguns pontos importantes que deve transmitir ao seu filho. No entanto, aconselhe-o a ler sobre finanças e aumentar os seus conhecimentos sobre literacia financeira ao longo da vida.

Leia ainda: 7 dicas sobre finanças pessoais para quem está beira da maioridade

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