5 trapaças mentais que tem de ultrapassar ao investir

O seu cérebro é a única coisa que está entre si e um bom desempenho da carteira de investimentos. Controle-o.

Investir não se resume a aplicar dinheiro. É essencial controlar as emoções. Deixo-lhe cinco sugestões para se tornar num melhor investidor ou investidora.

1. Seguir o rebanho

A febre das tulipas nos Países Baixos seiscentistas, a bolha nas ações das companhias tecnológicas no final do século passado e a crise imobiliária dos Estados Unidos da América na primeira década do século XXI são os exemplos mais populares do comportamento de rebanho. Não é preciso, no entanto, recuar no tempo para perceber esta atitude.

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Os analistas profissionais que acompanham o negócio da Tesla, a fabricante de automóveis elétricos, calculam que a companhia norte-americana crescerá 50% por ano no próximo quinquénio. São estimativas como essas que conduziram rebanhos de especuladores a levar as ações da empresa a apreciarem-se 800% nos 12 meses que terminaram no início de abril passado. Pense por si: se a expectativa dos analistas se confirmar, a Tesla venderá mais num ano do que o que a economia portuguesa produz. Acredita? Hoje, apenas cinco empresas cotadas faturam mais do que a economia nacional e nenhuma é do segmento automóvel.

Outro exemplo: o Bitcoin passou de valer nada a custar 50 mil euros apenas com a promessa de se tornar numa moeda. Quer juntar-se a este rebanho?

A maioria das pessoas aposta na Tesla e no Bitcoin porque outros o promovem; não o fazem pelo mérito da empresa ou do criptoativo. É possível, todavia, que os objetivos dos outros sejam díspares dos seus. Quem sugere as ações da Tesla pode estar a tentar manipular o mercado. Quem recomenda Bitcoins para o longo prazo pode querer encaixar as suas mais-valias no curto prazo.

Use a sua cabeça. Não seja ovelha.

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2. Participar no jogo

A relação que temos com o dinheiro é emocional. Se perdemos uma nota, ficamos tristes. Se nos cobram comissões, ficamos furiosos. Se ganhamos um bónus, ficamos felizes. Se acertamos na taluda, ficamos eufóricos.

É natural que os investidores vejam os seus investimentos como um jogo. É uma competição para descobrir quem mais ganha. É um desafio a não perder. Há vencedores e vencidos. Essa posição é, porém, errada.

Não se deve investir o património por desporto ou por diversão. O objetivo é maximizar o retorno. A maioria das pessoas terá mais sucesso com investimentos aborrecidos.

Deixe as emoções na cama.

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3. Manifestar superpoderes

Pergunte quem pensa que alcançará rentabilidades superiores numa sala cheia de investidores. A maioria — se não forem todos — levantará o braço. É estatisticamente errado: metade dos investidores tem retornos abaixo da mediana.

A sobreconfiança é um grave problema, em particular nos investimentos. Conduz frequentemente a um abuso de transações, ao pagamento de comissões excessivas, à sobretributação e, por transitividade, a rentabilidades efetivas mais baixas. Pensar que se tem superpoderes nos investimentos gera subdesempenhos.

Quem compreende este problema e não quer participar nos investimentos como um jogador, opta amiúde por instrumentos indexados a todo o mercado, como fundos de índice. Assim, sabe-se à partida que o retorno será mediano; nem mais nem menos.

Exiba a sua mediania.

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4. Acreditar em super-heróis

Algumas pessoas testam os seus superpoderes porque acreditam que há investidores super-heróis. Warren Buffett, Benjamin Graham, Bill Gross e muitos outros conseguiram alcançar retornos elevados em décadas. É inegável que tiveram sobredesempenhos, mas os aforradores que querem replicar as suas estratégias não conseguem mimetizar o comportamento dos gurus da bolsa.

Peter Lynch, quando geriu o fundo Fidelity Magellan, alcançou o mais elevado registo de duas décadas: ganhou 25,8% por ano nos 20 anos que terminaram no final de 1994. É fenomenal: um investimento no fundo multiplicou-se por 98 durante esse período. Todavia, quando a sociedade gestora estudou os ganhos dos subscritores, descobriu que não tiveram lucro: em média, perderam dinheiro. A maioria subscrevia o fundo após uma forte subida e abandonava-o depois de uma desvalorização.

É o próprio Warren Buffett, discutivelmente o maior investidor vivo, que aconselha: “Apliquem 10% do dinheiro em títulos de dívida pública de curto prazo e 90% num fundo muito barato sobre o índice S&P 500”, escreveu.

Lembre-se sempre que alguns super-heróis transformam-se rapidamente em supervilões: Charles Ponzi, Bernie Madoff, Ricardo Salgado, Albertino de Figueiredo, Dona Branca, entre muitos outros.

Mantenha os pés na terra.

5. Mexer-se

A maioria dos candidatos a investidores tem dificuldade em visualizar o poder da capitalização, o efeito dos juros sobre os juros. É uma arma secreta.

Em 1965, num relatório que escreveu para os seus sócios de investimentos, Warren Buffett descreveu o que chamou de “Técnica de Matusalém”, uma referência ao mais longevo dos patriarcas bíblicos. Buffett defendeu haver “vantagens financeiras” em viver uma longa vida, alcançar uma elevada taxa de capitalização ou, preferencialmente, uma combinação das duas. Um centavo de dólar investido à taxa de 5% por ano acumularia 184 milhões de dólares em metade da vida de Matusalém, que, segundo o Livro de Génesis, viveu 969 anos. (Não precisa de 184 milhões de dólares nem de viver metade de 969 anos.)

Uma investigação recente da ProPublica às declarações de IRS dos 25 estado-unidenses mais ricos prova que usam e abusam do poder da capitalização dos rendimentos. O principal segredo das suas fortunas é nunca vender.

O maior erro dos restantes mortais é trocar frequentemente de instrumentos financeiros, dar preferência a aplicações que distribuem rendimentos periódicos, negociar ao sabor das notícias, acompanhar os conselhos assíduos dos amigos e dos funcionários bancários. Este comportamento quebra a capitalização. Deveriam escolher instrumentos para a vida, preferencialmente produtos sem distribuição de rendimentos. É opção mais lógica.

Invista e fique quieto.

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Editor do boletim tlim, uma publicação eletrónica de finanças pessoais. Ex-jornalista. Colaborou durante 20 anos com mais de uma dúzia de publicações, do Expresso à Seleções do Reader's Digest. Não gosta de Economia. Está a escrever o seu terceiro livro sobre investimentos. Eterno aprendiz.

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