O ano de 2022 ficou marcado pelo regresso (em força) da inflação, algo que ainda não tínhamos assistido no século XXI. O fenómeno do aumento generalizado de preços - inflação - foi o reflexo de várias crises que fomos tendo ao longo dos últimos anos, com destaque para o Covid-19, que obrigou as entidades competentes (Estados e autoridades monetárias) a tomar medidas que permitiram “criar uma ponte” entre os confinamentos e a reabertura das economias. Essas medidas, caracterizaram-se na sua maioria, por injeções de liquidez na economia real, através de programas de compras de ativos e redução das taxas de referência, que fizeram com que o “dinheiro ficasse mais barato”.
Houve outro acontecimento que contribuiu para tornar o ano de 2022 mais complexo. A invasão da Rússia à Ucrânia criou mais um foco de instabilidade, sendo que, neste caso, a sua real dimensão ultrapassa a vertente económica, uma vez que coloca em causa a estabilidade na Europa e obriga a um posicionamento estratégico das diferentes potências mundiais, que muitas vezes apresentam interesses opostos. O facto de serem duas nações com grande importância energética teve também uma influência importante no surgimento da inflação.
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Acabar como começou
Dezembro foi um mês muito volátil. Por norma, a liquidez é sempre mais reduzida no último mês do ano. O foco dos investidores manteve-se nas reuniões dos bancos centrais e nas guidelines que estes nos foram dando. Aguarda-se nos mercados financeiros, com enorme expetativa, o momento em que as autoridades monetárias irão anunciar o fim das subidas de taxa de juro, não tendo existido sinais que apontem nesse sentido nas reuniões que ocorreram em dezembro. Pelo contrário, a mensagem que foi passada foi de combate feroz à inflação.
Outro fator que influenciou a performance do mês de dezembro foi a desistência da estratégia de Covid zero na China, o que originou um grande aumento de casos e hospitalizações. Tendo em conta estes desenvolvimentos, muitos Estados voltaram a exigir testes aos viajantes provenientes da China.
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Performance das carteiras
O mês foi mau para praticamente todas as linhas das nossas carteiras, com exceção da exposição a obrigações da China e das treasuries de curto prazo. O segmento acionista foi o mais penalizado, devido ao facto de os investidores estarem a posicionar-se para um primeiro semestre de enorme incerteza.
Com uma possível recessão no horizonte, ninguém consegue antecipar a dimensão (muito ou pouco intensa?) que esta pode apresentar. Em simultâneo, os investidores estão com receio das repercussões que uma recessão pode vir a ter na economia mundial e, consequentemente, na redução das receitas e valorização das empresas.
Em resumo, a performance de dezembro foi o reflexo do ano, onde tivemos 10 meses negativos. Assim, a carteira moderada desvalorizou -2,37% e a dinâmica -2,6%.
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Desempenho da carteira com perfil moderado
Composição da carteira com perfil moderado
Desempenho da carteira com perfil dinâmico
Composição da carteira com perfil dinâmico
Objetivo das nossas carteiras
Quando, em março de 2021, criámos estas duas carteiras virtuais, o nosso objetivo passou sempre por saber explicar os movimentos de mercado e a influência que tinham nas nossas carteiras. Temos tido sempre esta preocupação, até porque o investimento é um processo que se prolonga no tempo.
Como exemplo, em maio de 2021, reduzimos risco nas carteiras por entendermos que a performance dos mercados financeiros não tinha uma justificação lógica ou racional. Demorou algum tempo, mas a realidade é que o nosso posicionamento atual, apesar de apresentar uma performance negativa, está melhor do que a carteira inicial.
É importante também realçar que ao longo da viagem ou processo de investimento irão existir muitas oscilações e momentos de enorme volatilidade. O fundamental é perceber onde estamos investidos e porquê. Perceber que no meio do pânico existem sempre oportunidades, e ter a racionalidade para distinguir e encontrar ativos de qualidade. Porque esses, quando tudo acalmar, irão recuperar e gerar retorno…
Nota: As carteiras do Doutor Finanças não são nem devem ser entendidas como um conselho a investir neste ou naquele tipo de instrumento financeiro. As nossas carteiras foram criadas apenas para permitir ilustrar quais os riscos e os benefícios potenciais de investir, direta ou indiretamente, em instrumentos financeiros como ações e obrigações.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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