Investir de forma sustentável significa canalizar capital para empresas que não se limitam a gerar lucros, mas também contribuem para um futuro mais equilibrado.
Este movimento não é apenas uma moda. Em setembro de 2025, a supervisão da CMVM e as exigências europeias tornam obrigatório que os fundos e empresas listadas apresentem relatórios claros sobre o impacto ambiental e social da sua atividade. A transparência é agora uma exigência regulatória e um critério cada vez mais importante para quem investe.
Este artigo explica o que são investimentos ESG, como identificar fundos e ações ESG credíveis e o que ponderar antes de investir.
O que significa ESG e porque importa para os investidores?
ESG é o acrónimo de Environmental, Social and Governance — ou, em português, ambiental, social e governação. Cada pilar tem critérios distintos:
- Ambiental: mede o impacto da empresa nas alterações climáticas, emissões de carbono, eficiência energética, uso de recursos e gestão de resíduos.
- Social: avalia condições de trabalho, respeito pelos direitos humanos, políticas de inclusão, diversidade e relação com a comunidade.
- Governação: analisa transparência, ética empresarial, composição dos conselhos de administração, combate à corrupção e alinhamento com os acionistas.
Segundo a CMVM, em 2025, os investimentos ESG são uma das prioridades da supervisão nacional. O foco está em garantir que relatórios de sustentabilidade são comparáveis, verificáveis e livres de práticas de greenwashing. A nível europeu, a Diretiva CSRD e o Regulamento SFDR são hoje os grandes enquadramentos legais.
A aposta nos critérios ESG significa que os investidores já não olham apenas para a rendibilidade imediata. Consideram também riscos de longo prazo, como o impacto da transição energética ou a pressão regulatória sobre empresas poluentes.
Fundos ESG: A porta de entrada mais acessível
Em Portugal, os fundos de investimento ESG têm crescido de forma expressiva. A Associação Portuguesa de Fundos de Investimento (APFIPP) estima que cerca de 60% dos fundos mobiliários já incorporam características ESG. Ainda assim, poucos atingem o nível máximo de sustentabilidade definido pelo artigo 9.º do Regulamento SFDR.
Os fundos ESG permitem ao investidor aceder a carteiras diversificadas, geridas por profissionais que selecionam ativos segundo critérios sustentáveis. Esta é, geralmente, a forma mais simples para pequenos investidores entrarem neste universo.
Mas atenção: o rótulo “ESG” não é suficiente. É fundamental ler a política de investimento do fundo, verificar se a classificação corresponde ao artigo 8.º (fundos que promovem características ambientais e sociais) ou ao artigo 9.º (fundos com objetivo sustentável explícito). Só assim o investidor garante que não está a comprar um produto apenas com marketing verde.
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Ações ESG: Apostar diretamente em empresas sustentáveis
Outra forma de investir é escolher ações de empresas com boas práticas ESG. Em Portugal, algumas cotadas destacam-se pela aposta na sustentabilidade, como a EDP Renováveis, a Corticeira Amorim ou a Navigator. Estas empresas apresentam relatórios de sustentabilidade auditados, metas de neutralidade carbónica e políticas sociais robustas.
No entanto, o investimentos em ações ESG exige análise detalhada dos relatórios de impacto, dos ratings ESG atribuídos por agências independentes e do alinhamento das empresas com normas internacionais, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Como identificar investimentos ESG credíveis
Num mercado em rápida expansão, distinguir o genuíno do superficial é essencial. A CMVM alerta que o risco de greenwashing é real e crescente. Eis os principais critérios a ter em conta:
- Relatórios de sustentabilidade claros: devem apresentar dados concretos e comparáveis, como emissões evitadas, diversidade de género ou impacto na comunidade.
- Verificação independente: auditorias externas aumentam a credibilidade da informação.
- Classificação regulatória: fundos ESG devem indicar se são artigo 8.º ou 9.º do SFDR.
- Ratings ESG de agências independentes: MSCI, Sustainalytics ou Refinitiv são referências internacionais.
- Transparência na política de investimento: investidores devem perceber como são escolhidos os ativos.
Em Portugal, a própria CMVM publicou em 2024 um guia de sustentabilidade para entidades supervisionadas, reforçando a obrigação de clareza. Para o investidor particular, esta evolução significa maior proteção e mais ferramentas para avaliar a autenticidade de um fundo ou ação ESG.
Vantagens de apostar em investimentos ESG
Os investidores que incorporam critérios ESG não o fazem apenas por valores éticos. Há também vantagens financeiras claras:
- Gestão de risco mais robusta: empresas que respeitam critérios ambientais e sociais estão menos expostas a multas, litígios ou boicotes reputacionais.
- Resiliência em tempos de crise: estudos apontam que empresas com boas práticas ESG resistem melhor a choques económicos.
- Maior atratividade para consumidores e investidores: em 2025, os consumidores portugueses valorizam marcas sustentáveis e com impacto social. Segundo o estudo “Consumo Consciente e Responsável”, os inquiridos responderam sobre os valores mais relevantes de uma marca. A qualidade do produto é o fator mais valorizado para 86,3% dos inquiridos. Segue-se a acessibilidade do preço (72,1%) e o atendimento ao cliente (51,1%). A sustentabilidade foi apontada por 44,8% dos consumidores e a responsabilidade social da marca importa para 34,5% dos inquiridos. Essa tendência fortalece empresas que integram ESG.
- Acesso a financiamento mais barato: empresas sustentáveis conseguem emitir obrigações verdes ou obter crédito com condições mais favoráveis.
Em suma, alinhar investimentos com critérios ESG pode trazer retorno financeiro competitivo e, ao mesmo tempo, gerar impacto positivo na sociedade e no ambiente.
Riscos e armadilhas: Quando o ESG não é o que parece
Apesar do crescimento, o mercado ESG enfrenta críticas e riscos. O mais citado é o greenwashing — a prática de algumas empresas ou fundos apresentarem uma imagem sustentável sem alterar a essência das suas operações. Por isso, investir em ESG exige uma postura crítica. O investidor deve ir além do rótulo e confirmar a consistência entre discurso e prática.
Outros riscos incluem a falta de padronização entre agências de rating ESG, o que leva a classificações contraditórias, e a limitação de opções de investimento em setores considerados controversos.
Além disso, no curto prazo, alguns fundos ESG podem até render menos que índices tradicionais, sobretudo em ciclos de forte valorização de setores poluentes, como o da energia fóssil.
Exemplos de empresas e fundos ESG em Portugal
Em Portugal, o mercado já oferece várias opções para quem quer alinhar valores e rentabilidade:
- Fundos nacionais: o NB Sustentável ou o IMGA Future Planet são exemplos de fundos com critérios ESG disponíveis no mercado português.
- Empresas cotadas: a EDP Renováveis lidera no setor energético, enquanto a Corticeira Amorim aposta na economia circular e a Navigator na gestão florestal sustentável.
- Plataformas de impacto: projetos como a Goparity permitem investir diretamente em iniciativas de energia renovável ou inclusão social, sob supervisão da CMVM.
Estes exemplos mostram que já existe oferta variada, embora o mercado nacional ainda esteja em fase de consolidação.
Dicas práticas para investidores portugueses
- Comece com fundos ESG: são mais fáceis de acompanhar e oferecem diversificação imediata.
- Leia sempre os relatórios de impacto: procure métricas claras, como emissões evitadas ou metas de inclusão.
- Verifique o artigo SFDR: fundos artigo 9.º são os mais alinhados com a sustentabilidade.
- Diversifique geograficamente: combine fundos europeus e globais com ações nacionais ESG.
- Consulte a CMVM e entidades credíveis: use guias oficiais e relatórios de supervisão para evitar armadilhas de marketing.
- Reveja periodicamente a carteira: a evolução regulatória e empresarial pode alterar o perfil ESG de um fundo ou ação.
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ESG é rentabilidade com impacto
Investir em ESG é mais do que uma escolha ética: é uma forma de alinhar valores pessoais com segurança e resiliência financeira. Ao mesmo tempo, contribui para acelerar a transição para uma economia mais sustentável, que já não é uma opção, mas uma necessidade.
Os investidores portugueses têm hoje acesso a fundos, ações e plataformas alinhadas com critérios ESG. Mas a escolha exige atenção redobrada: verificar relatórios, exigir transparência e fugir de práticas de greenwashing.
Em última análise, os investimentos ESG são uma oportunidade de transformar o capital em impacto positivo. Para o investidor informado, representam a possibilidade de conjugar retorno financeiro com responsabilidade social e ambiental — uma dupla vitória que molda o futuro da economia e da sociedade.
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