Inflação
Este continua a ser o tema que domina o discurso dos bancos centrais e, consequentemente, o comportamento dos mercados financeiros. Desde a crise do subprime que os ativos financeiros têm sido “alimentados” pela liquidez criada pelas autoridades monetárias, de forma a dinamizarem a economia. Não é de estranhar que o foco dos investidores esteja nas ações e discursos daqueles que têm o poder de influenciar a subida ou descida das taxas de juro.
O facto relevante é que muito mais do que a influência negativa que a inflação tem na economia real, o importante para os mercados financeiros é perceber se a tendência da subida abrupta das taxas de juros se irá manter ou abrandar. Há muito que existe a ideia de que quanto piores forem os dados económicos, melhor o comportamento dos ativos, porque os investidores percebem que as entidades responsáveis pelas politicas monetárias irão ter maior prudência na hora de tomar decisões difíceis, o que de uma forma simples significa que o receio de uma recessão poderá “obrigar” os bancos centrais a darem um passo atrás no plano que têm definido.
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Liz Truss
Num mês marcado por vários acontecimentos relevantes, a renúncia (aguardada) do cargo de primeira-ministra por parte de Liz Truss foi um marco importante. Nunca ninguém tinha estado tão pouco tempo no poder no Reino Unido. Em apenas 45 dias, e depois da apresentação de um plano económico que não teve em conta o contexto que atravessamos, Liz Truss foi obrigada a recuar, sobretudo pela pressão que os mercados financeiros colocaram no Reino Unido.
BCE acompanha os seus “parceiros”
Na reunião de outubro, o BCE decidiu aumentar em 75 pontos base a taxa de referência. De uma forma abrangente, na Europa, a taxa de referência situa-se nos 2%, ainda muito atrás das subidas protagonizadas por outras entidades com relevo mundial, como a Reserva Federal, que está neste momento em 4%, ou o Reino Unido, que se situa nos 3%.
Existem vários motivos que justificam a forma mais lenta como o BCE está a reagir no combate à inflação. O primeiro e talvez o menos abordado é que existem países com uma dimensão considerável com dívidas públicas muito elevadas e com perspetivas de crescimento mais reduzidas. Nestes casos, uma subida agressiva ou a ausência de apoio por parte do BCE poderá originar uma situação muito complicada no bloco europeu e com reflexos difíceis de controlar.
Outro argumento tem a ver com o facto de a guerra entre Ucrânia e Rússia se estar a desenrolar no continente europeu, o que cria uma incerteza económica e territorial maior na Europa.
A ausência de uma união efetiva e de um consenso generalizado do caminho a seguir por parte dos países da Zona Euro cria maiores dificuldades no momento de tomar decisões importantes.
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Consagração de XI Jinping no poder
O congresso do Partido Comunista chinês terminou com o reforço de poderes de Xi Jinping. Este foi um acontecimento muito importante e com impacto no comportamento dos mercados emergentes. O receio em torno da equipa que vai liderar a China, com membros que são considerados mais radicais e escolhidos pelo atual presidente, gerou um sentimento negativo nos investidores, com dúvidas de que a China possa vir a adotar uma posição mais radical internamente e na economia global.
Carteiras de Investimento
Com tantos acontecimentos relevantes, a tendência do mês de outubro não foi definida. As carteiras terminaram novamente o mês negativo, ainda que com particularidades interessantes. No segmento das obrigações, as inflation linked foram os únicos ativos positivos, com toda a restante exposição a bonds a ter um contributo negativo, que se justifica pela agressiva subida de taxas de juro por parte das diferentes autoridades monetárias globais.
O mais interessante foi a performance do segmento acionista que teve um comportamento positivo, com a exceção da exposição à Ásia, que acabou por ser muito penalizada pela forma como decorreu o congresso do Partido Comunista chinês. O motivo que justifica este bom comportamento acionista prende-se, mais uma vez, com o discurso dos governadores dos bancos centrais, que têm vindo a passar uma mensagem de que a tendência de subida recente nas taxas de juro poderá ser mais moderada no futuro em função da degradação dos diferentes indicadores económicos.
Em termos gerais, a carteira moderada corrigiu 0,99% enquanto a carteira dinâmica caiu 0,63%.
Desempenho da carteira com perfil moderado
A composição da carteira com perfil moderado
Desempenho da carteira com perfil dinâmico
A composição da carteira com perfil dinâmico
Objetivo das nossas carteiras
Quando, em março de 2021, criámos estas duas carteiras virtuais, o nosso objetivo passou sempre por saber explicar os movimentos de mercado e a influência que tinham nas nossas carteiras. Temos tido sempre esta preocupação, até porque o investimento é um processo que se prolonga no tempo.
Como exemplo, em maio de 2021, reduzimos risco nas carteiras por entendermos que a performance dos mercados financeiros não tinha uma justificação lógica ou racional. Demorou algum tempo, mas a realidade é que o nosso posicionamento atual, apesar de apresentar uma performance negativa, está melhor do que a carteira inicial.
É importante também realçar que ao longo da viagem ou processo de investimento irão existir muitas oscilações e momentos de enorme volatilidade. O fundamental é perceber onde estamos investidos e porquê. Perceber que no meio do pânico existem sempre oportunidades, e ter a racionalidade para distinguir e encontrar ativos de qualidade. Porque esses, quando tudo acalmar, irão recuperar e gerar retorno…
Nota: As carteiras do Doutor Finanças não são nem devem ser entendidas como um conselho a investir neste ou naquele tipo de instrumento financeiro. As nossas carteiras foram criadas apenas para permitir ilustrar quais os riscos e os benefícios potenciais de investir, direta ou indiretamente, em instrumentos financeiros como ações e obrigações.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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