Jovens trabalhadores num contexto de escritório

Receber o primeiro salário é um marco na vida de qualquer jovem adulto. É o início da independência financeira, mas também o ponto de partida de novas responsabilidades. Muitos jovens trabalhadores sentem a pressão de pagar contas, gerir dívidas e ainda tentar poupar para o futuro.

Poupar com o primeiro salário pode parecer difícil, sobretudo quando o rendimento não é elevado e as despesas fixas pesam no orçamento. Mas a verdade é que, com disciplina e um plano bem estruturado, é possível construir uma poupança sólida em apenas 365 dias.

Neste artigo, saiba como transformar o primeiro salário numa oportunidade de construir um fundo de emergência e preparar o caminho para objetivos maiores. O segredo está em planear, controlar gastos e adotar hábitos financeiros que se mantenham ao longo da vida.

Conta à ordem, conta poupança ou conta ordenado: Onde guardar o primeiro salário?

O primeiro passo para gerir bem o primeiro salário passa por escolher a conta bancária adequada. A maioria dos jovens começa com uma conta à ordem, usada para receber o salário e pagar as despesas mensais. É a conta de movimentação diária, mas não deve ser o único instrumento financeiro.

Além da conta à ordem, é fundamental abrir uma conta poupança. Este tipo de conta permite separar o dinheiro destinado à poupança do dinheiro usado no dia a dia. Assim, evita-se a tentação de gastar o que deveria estar reservado para objetivos futuros.

Contudo, a conta ordenado pode trazer benefícios adicionais. Em 2025, muitos bancos oferecem isenção de comissões. Outros disponibilizam crédito pessoal com taxas reduzidas ou cartões sem anuidade para quem domicilia o primeiro salário. É uma solução a considerar, mas que deve ser comparada entre instituições para garantir que compensa face a outras opções.

Exemplo prático: Se transferir automaticamente 100 euros por mês do seu salário para a conta poupança terá ao final de um ano 1.200 euros, sem contar com os juros e impostos da conta poupança.

Orçamento mensal: Controlo é meio caminho para poupar

Controlar as despesas é tão importante como aumentar a poupança. Um orçamento mensal permite perceber para onde vai cada euro do primeiro salário. As despesas devem ser divididas em fixas (renda, créditos, seguros), variáveis (alimentação, transportes) e supérfluas (lazer e compras não essenciais).

Existem métodos simples como o 50-30-20: 50% do salário para despesas fixas, 30% para variáveis e 20% para poupança. Esta regra ajuda a manter equilíbrio, mesmo quando o salário não é muito alto.

Aplicações de gestão financeira ou até uma folha de Excel podem servir para registar todos os gastos. Anotar cada gasto é a forma mais eficaz de evitar surpresas no final do mês.

Exemplo prático: Caso gaste 100 euros por mês em refeições fora, pode reduzir esse valor para 50 euros. Ao final de 365 dias, poupa 600 euros.

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Como o “paga-te primeiro” ajuda a poupar

Uma das estratégias mais eficazes é o princípio do “paga-te primeiro”. Assim que o primeiro salário cai na conta, deve ser definido um valor que é automaticamente transferido para a poupança. Com um débito direto ou transferência programada, a poupança deixa de depender da força de vontade.

O ideal é definir percentagens de poupança desde o início. Especialistas recomendam poupar entre 10% e 20% do salário líquido. Quem recebe 1.100 euros, por exemplo, pode conseguir reservar 110 euros todos os meses para a poupança sem comprometer as despesas essenciais.

Exemplo de poupança: 15% de um salário de 1.200 euros equivale a 180 euros. Ao final de um ano, pode acumular 2.160 euros.

Dica de poupança: O débito direto evita encargos desnecessários com juros

Outra vantagem do débito direto é garantir o pagamento atempado das contas fixas, como créditos, seguros, água, eletricidade, gás natural, telecomunicações ou ginásio. Ao utilizar este método de pagamento, previne o esquecimento de faturas e a aplicação de juros de mora. Ao mesmo tempo, permite ter uma visão clara das contas mensais.

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Fundo de emergência: A segurança que precisa para imprevistos

Nenhum plano de poupança fica completo sem um fundo de emergência. Este deve cobrir, no mínimo, entre três e seis meses de despesas essenciais. Ou seja, não se trata de três a seis meses do salário completo, mas sim do valor necessário para cobrir despesas essenciais (renda, despesas da casa, alimentação, transportes, etc.).

Um fundo de emergência funciona como uma rede de proteção. Se surgir uma doença, perda de emprego ou reparação inesperada, evita recorrer a créditos com taxas de juro elevadas, como cartões de crédito.

Construir este fundo deve ser a primeira meta. Quem tem despesas mensais de 700 euros deve apontar para um fundo entre 2.100 euros e 4.200 euros. O valor pode ser atingido em 365 dias, desde que haja disciplina e organização.

Dica de poupança: Se poupar 200 euros por mês, atinge 2.400 euros no final do ano. Este valor é suficiente para cobrir três meses de despesas básicas.

Defina metas de poupança a curto, médio e longo prazo

Ter objetivos claros ajuda a manter a motivação. A poupança deve ser dividida em três horizontes: curto prazo (comprar um computador, fazer uma viagem), médio prazo (dar entrada para uma casa, mudar de carro) e longo prazo (reforma, independência financeira).

Cada meta deve ter um valor e um prazo definidos. Assim, sabe se a poupança mensal é suficiente ou precisa de ajustes. O ideal é usar aplicações bancárias que permitem criar subcontas/mealheiros para cada objetivo.

Porém, com um primeiro salário, as metas não devem ser demasiado ambiciosas. O mais importante é criar consistência. Mesmo 50 euros por mês podem fazer uma diferença significativa ao final de um ano.

Exemplo para uma poupança de curto prazo: 75 euros mensais durante 12 meses resultam em 900 euros. Esta poupança pode ser suficiente para pagar uma viagem ou um curso.

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Jovem trabalhadora num contexto de oficina

Rever e amortizar dívidas com o primeiro salário: Não fique de braços cruzados se tem créditos

Muitos jovens adultos começam a vida profissional já com dívidas. Crédito automóvel, crédito pessoal ou cartões de crédito podem consumir grande parte do primeiro salário. O primeiro passo é rever todas as condições junto da instituição de crédito. Deve contactar a entidade para perceber se existe margem para melhorar as condições, como baixar a taxa de juro, alterar a modalidade de juros ou prazo do contrato.

A renegociação pode reduzir a taxa de juro e, consequentemente, o valor da prestação. Outra opção é a consolidação de créditos, que junta várias dívidas numa só, com prazo mais longo e uma taxa inferior em comparação à maioria dos créditos. Embora aumente o tempo de pagamento, esta é uma opção que alivia o orçamento mensal. Através do crédito consolidado, pode reduzir as suas prestações até 60%.

No entanto, amortizar dívidas também deve ser uma prioridade. Pagar antecipadamente créditos com juros elevados, como cartões de crédito (segundo o Banco de Portugal, as TAEG máximas no quarto trimestre de 2025 podem chegar aos 18,8%), permite poupar centenas de euros em juros futuros.

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Exemplo de poupança com o crédito consolidado: com três créditos ao consumo em que o total das prestações mensais representa 500 euros, ao obter um crédito consolidado que gere uma poupança de 25% no valor total, o encargo mensal é reduzido para 375 euros. Ou seja, poupa 125 euros por mês, o que representa uma poupança anual de 1.500 euros.

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Seguros base: Proteção e poupança em saúde e imprevistos

Poupar não significa descurar proteção. Os seguros são essenciais para evitar despesas inesperadas. O seguro de saúde, por exemplo, pode reduzir custos em consultas, exames e hospitalizações. Em 2025, existem apólices com prémios mensais mais acessíveis para jovens trabalhadores.

O seguro automóvel é obrigatório para quem tem carro. Aqui, a poupança está em comparar ofertas. O mesmo veículo pode ter diferenças de até 200 euros por ano entre seguradoras.

Dica para poupar no seguro automóvel: ao mudar de seguradora, tem a possibilidade de reduzir o seu seguro em cerca de 150 euros ao ano. Porém, o valor do prémio depende de vários fatores: idade, anos de carta, localização, tipo de veículo e histórico de sinistros. Informe-se e compare propostas.

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Quanto pode poupar em 365 dias com o seu primeiro salário?

O montante que pode poupar em 365 dias com o seu primeiro salário varia muito consoante os seus rendimentos, despesas fixas e variáveis e quanto está disposto a poupar. Porém, mesmo sem reduzir encargos, apresentamos dois cenários distintos, com o mesmo rendimento, que permitem uma poupança significativa ao final de um ano.

Cenário 1: Jovem de 24 anos a viver em casa dos pais

  • Salário líquido: 1.200 euros 
  • Créditos: 400 euros (automóvel + pessoal) 
  • Despesas correntes: 200 euros (alimentação, transportes, telecomunicações) 
  • Poupança possível: cerca de 200 a 250 euros por mês 

Total da poupança ao final de 365 dias: entre 2.400 e 3.000 euros.  

A este valor pode somar uma percentagem do subsídio de férias e subsídio de Natal (500 euros por ano), menos de metade do valor que poupa com a medida do IRS Jovem (40 euros x 14 meses = 560), e cortes de despesas fixas, através do ajuste do orçamento familiar (250 euros anuais), negociação de crédito e revisão da carteira de seguros (1.000 euros anuais).  

Ou seja, num espaço de um ano, poderia aumentar a sua poupança em mais de 2.300 euros. No total, em 365 dias, a sua poupança poderia atingir mais de 5.000 euros. Este valor permite-lhe criar o seu fundo de emergência para três meses e focar-se em alcançar as suas metas de poupança a curto e médio prazo. 

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Cenário 2: Jovem de 24 anos a viver numa casa arrendada com outra pessoa

  • Salário líquido: 1.200 euros 
  • Renda e despesas da casa: 400 euros 
  • Crédito automóvel: 150 euros 
  • Cartões de crédito: 250 euros  
  • Outras despesas correntes: 200 euros 
  • Poupança máxima possível: cerca de 100 euros por mês 

Total da poupança ao final de 365 dias: cerca de 1.200 euros. 

Neste cenário, há um nível de encargos muito elevado. Logo, a possibilidade de poupança fica reduzida a valores mais pequenos.

Contudo, se conseguir consolidar os três créditos e poupar cerca de 1.000 euros anuais com esta alteração, poupar uma parte do valor do IRS Jovem (30 euros x 14 meses = 420 euros) e alocar uma percentagem dos subsídios de férias e Natal (350 euros por ano), pode alcançar uma poupança adicional de 1.770 euros.

Em 365 dias, a sua poupança total seria de 2.970 euros. 

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Aplique bem o seu primeiro salário e transforme 365 dias em hábitos que duram uma vida

O primeiro salário é mais do que um valor recebido no final do mês. É a oportunidade de criar hábitos financeiros sólidos que o vão acompanhar toda a vida. Com disciplina, organização e pequenos ajustes é possível poupar mesmo quando as despesas parecem esmagadoras.

Em 365 dias, o esforço compensa. Se recebe entre 1.000 e 1.300 euros, pode construir um fundo de emergência, amortizar dívidas e ainda juntar uma poupança atrativa. No total, é possível poupar entre 1.200 e 5.000 euros por ano. O segredo está em começar e manter consistência.

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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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