Cuidado com o “revenge spending”

O que é isto do revenge spending? É a nossa vingança pelo tempo em que não gastámos dinheiro. Tenha cuidado para não cair no extremo oposto.

Dito assim, com um nome inglês, até parece uma coisa com estilo ou, pelo contrário, uma doença esquisita. E porque é que deve ter cuidado com isto?

Revenge spending, traduzindo será qualquer coisa como “Vingança do consumo”, é um fenómeno conhecido em termos económicos e que muito provavelmente está a afetá-lo sem que se aperceba. A mim está.

Vingança pela ausência de consumo

É uma reação explicada por teorias comportamentais, em que depois de um período de grande privação, assim que temos a oportunidade “vingamo-nos” desse tempo de ausência de consumo, com um consumo desregrado e exagerado sem nenhuma justificação lógica.

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Um exemplo muito simples - que pode estragar por completo as suas finanças pessoais - é pensar: “Como no ano passado não fui de férias, agora (posso) vou gastar o dobro”. Ou então, “Como não fui jantar fora durante meses, agora vou todas as semanas ou dia sim dia não”. 

Isso é o que a sua mente quer ouvir. Mas é a pior das notícias para a sua carteira. Acontece que a sua carteira não fala consigo. Quer dizer, fala, mas normalmente é uma vez por mês, quando vai ver o saldo e se apercebe de que já está perto do zero ou  negativo.

Este fenómeno já começou a ser analisado na China, depois da fase grave da pandemia, com as pessoas a gastarem muito dinheiro em produtos de luxo, por exemplo. Comprariam as mesmas coisas se não tivesse ocorrido a pandemia? Provavelmente não.

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A ilusão de riqueza

Porque é que a nossa mente nos atraiçoa desta maneira? Porque a poupança forçada que tivemos de fazer ao longo de dois longos confinamentos, dá-nos agora a ilusão de que somos mais ricos. Desculpe dar-lhe esta “notícia”, mas isso não é verdade. 

As suas poupanças deveriam ser criteriosamente direcionadas para tudo aquilo que antes precisava e que não conseguia ter, para criar o seu fundo de emergência, para criar uma reserva para a educação dos seus filhos, para despesas urgentes, etc., e não para gastos “irracionais” em coisas de que não se vai lembrar daqui a 15 dias. 

Se tem algum destes sintomas que o levam a querer gastar dinheiro de uma forma irreprimível, como se fosse quase uma necessidade, deve prestar atenção a esses sinais e pensar duas vezes antes de qualquer decisão financeira importante.

Eu estou a sentir este fenómeno. Confesso que me revi nestes estudos que a imprensa nacional e internacional está a replicar. A minha vontade é, de facto, gastar mais do que o normal porque “eu e a minha família merecemos”. Tenho de fazer um esforço grande para controlar os meus gastos, sobretudo nesta altura de férias.

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Como evito o revenge spending?

O melhor tratamento é, em primeiro lugar, ter consciência deste fenómeno. É normal e está estudado. Acontece frequentemente nestas alturas de “libertação”. Por exemplo, aconteceu também quando caiu o muro de Berlim e os bens do lado de cá ficaram acessíveis aos alemães do lado de lá.

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Ou, recuando ainda mais, talvez se lembre de ouvir falar dos “Loucos anos 20” do século passado depois da Grande Depressão. Estaremos nós no início dos “Loucos anos 20” do século XXI? Talvez.

Em segundo lugar, basta manter os seus bons hábitos financeiros. Agarre-se ao seu orçamento mensal e faça todas as suas compras e gastos (incluindo as férias) com a mesma consciência, consistência e planeamento que tinha - espero - antes da pandemia.

Mantenha o bom hábito de comprar o que precisa e não o que deseja sem grande critério e continue a comparar sempre os preços e a negociá-los antes de cada compra que fizer.

Quem tem literacia financeira e está atento aos seus próprios sinais de alerta, não vai ser “infetado” pelo revenge spending.

Lembre-se que embora vingar-se do que não gastou este ano e meio possa trazer-lhe alguma satisfação imediata, os resultados a longo prazo só podem ser sofríveis. 

Pelo contrário, aproveite as suas poupanças reforçadas ou os seus rendimentos normais para continuar a construir um futuro financeiro melhor e mais seguro, à prova de pandemias e eventos similares. Acredite que vão acontecer.

Não se deixe influenciar pelos que, à sua volta, histericamente estejam a gastar o seu dinheiro como vingança pelo que não gastaram. Provavelmente vão pagar no futuro - não muito longínquo - tudo isso com juros. Use o seu dinheiro com inteligência. 

Você pode sair desta pandemia mais rico, ou mais pobre. Você escolhe.

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Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.

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