Fundo soberano da Noruega: Um investidor exemplar

O maior fundo soberano do mundo é uma fonte inspiradora para todos os investidores, independentemente da dimensão das suas carteiras.

Os fundos soberanos

Começando pelo conceito base, um fundo soberano é uma entidade de investimento criada e gerida pelo governo de um país, geralmente financiada com receitas provenientes de recursos naturais ou excedentes orçamentais. O seu objetivo principal é acumular riqueza para benefício do país a longo-prazo. Estes fundos investem em diversos ativos, como empresas cotadas (e não cotadas), títulos de dívida e imóveis, com vista a objetivos como a estabilização económica, poupança para futuras gerações e desenvolvimento estratégico. A sua gestão, governança e transparência variam de acordo com as políticas de cada país. Em suma, os fundos soberanos podem desempenhar um papel crucial na gestão prudente de recursos financeiros e na promoção do crescimento económico sustentável.

Criação e propósito

Um fundo soberano verdadeiramente exemplar, pela sua natureza estratégica, modelo de governança e política de investimento é o da Noruega. O Government Pension Fund Global (GPFG), como oficialmente é designado, destaca-se como o maior dos fundos soberanos, em termos de valor de mercado, superando os 1,428 biliões de dólares em 30 de junho de 2023. O seu valor representa cerca de quatro vezes a dimensão do PIB da Noruega.

O Fundo Soberano da Noruega (FSN) foi criado em 1990, pelo parlamento norueguês, com o propósito de gerir as receitas excedentes provenientes do petróleo e gás natural do país, tendo como objetivo primordial assegurar a prosperidade das gerações futuras. A criação do FSN foi motivada pela necessidade de diversificar a economia do país e garantir a sustentabilidade das finanças públicas a longo prazo.

Num país com uma população de apenas 5,4 milhões de habitantes, as reservas de petróleo e gás natural representam cerca de 20% do seu PIB, o que permitiu a criação de uma entidade pública com a missão de gerir de forma eficiente as receitas geradas e evitar a chamada “doença holandesa”, mitigando as possíveis consequências negativas de uma dependência excessiva a recursos naturais, como a volatilidade económica, corrupção e instabilidade social.

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Modelo de governança

O FSN é gerido pelo Norges Bank Investment Management (NBIM), uma divisão integrada, no entanto, independente do Banco Central da Noruega. O NBIM é a sociedade gestora responsável pela gestão do fundo, incluindo a seleção de investimentos, a implementação da estratégia e a gestão de riscos. A governança do fundo baseia-se em pilares fundamentais como a eficiência, transparência e responsabilidade.

O fundo comunica de forma muito ativa, tanto a estratégia de investimento como os seus resultados, através do seu portal. O atual CEO do NBIM, Nicolai Tengen, é particularmente presente na estratégia de comunicação, sobretudo através das redes sociais, sendo inclusivamente autor de um podcast, com bastante audiência, onde entrevista os líderes e gestores das empresas em que o Fundo investe.

Estratégia de investimento

A estratégia de investimento do FSN assenta na extrema diversificação da carteira, na perspetiva de longo prazo e na responsabilidade financeira. A diversificação global visa reduzir os riscos e melhorar a rendibilidade, enquanto o investimento a longo prazo procura assegurar a sustentabilidade das finanças públicas para as futuras gerações. O fundo promove uma abordagem financeiramente prudente, não realizando qualquer tipo de transações especulativas ou táticas.

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Alocação de ativos e resultados históricos

Desde a sua criação, o FSN tem registado um desempenho verdadeiramente notável. Com uma rendibilidade anualizada de cerca de 7% nos últimos 10 anos (dados até 30 de junho de 2023), o fundo mantém uma alocação extremamente diversificada de ativos, distribuídos aproximadamente da seguinte forma: 70% em ações a nível mundial, 30% em obrigações. Recentemente, foi incluído o investimento direto em imóveis e projetos de energia renovável, com um peso agregado esperado de 1% da carteira. A componente acionista tem participação em 9.000 empresas em 65 países, detendo, em média, 1,5% (com um máximo de 10%) do capital de todas as empresas onde investe.

Em suma, o FSN é um exemplo de boas práticas na gestão dos investimentos, mas sobretudo é uma fonte inspiradora para investidores privados em todo o mundo, independentemente da dimensão das suas carteiras de investimento. O fundo demonstra que é possível alcançar objetivos financeiros a longo prazo, atuando de uma forma não especulativa.

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Carim Habib, é um profissional com mais de 25 anos de experiência em Banca e Serviços Financeiros, construiu a sua trajetória profissional em instituições financeiras internacionais, como o Deutsche Bank e o ING Bank, concentrando-se em banca de investimentos e gestão de ativos. É o fundador e atual CEO da Dolat Capital, Empresa de Investimento, SA, sociedade regulada pela CMVM e especializada em consultoria para investimentos e análise financeira. Carim é licenciado em Matemática Aplicada, possuindo diversas pós-graduações em Finanças e é certificado CAIA (Chartered Alternative Investment Analyst).

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