O último estudo sobre a literacia financeira realçou as dificuldades que os portugueses têm nesta área. No total dos 27 países que compõem a União Europeia somos o segundo pior no que à literacia financeira diz respeito.
A recomendação do Conselho Europeu
O Conselho Europeu tem vindo a reforçar a sua preocupação com a evolução da literacia financeira na União Europeia. De uma forma regular, são efetuados estudos que nos demonstram que a evolução não tem sido a ideal. No nosso caso, a realidade é ainda mais desanimadora. Somos o segundo país, nos 27 que compõem a UE, com menos conhecimentos sobre literacia financeira. Porque é que este resultado nos deve alarmar? Esta questão tem uma resposta muito simples: a literacia financeira faz parte do nosso dia-a-dia. Todos os dias, ainda que inconscientemente, tomamos decisões de consumo, poupança ou investimento. Como exemplo, todos nós temos gastos mensais que fazem parte do nosso orçamento familiar. É fundamental sabermos gerir os custos em função dos rendimentos que temos ou dispomos. Adicionalmente, devemos ter a noção de que é fundamental ter um nível de vida de acordo com as nossas capacidades e, em simultâneo, preparar o futuro no presente, através de decisões que possam potenciar as nossas poupanças e das quais iremos recolher frutos no futuro. De uma forma simples, quanto mais ferramentas e conhecimentos tivermos, mais fundamentadas e lógicas serão as nossas decisões de consumo, poupança ou investimento. Tendo em conta este fator e tendo bem presente a importância da melhoria deste indicador, o Conselho Europeu recomendou aos 27 países da UE a inclusão da educação financeira no currículo escolar logo desde os seis anos de idade.
Leia ainda: Literacia financeira: Luzes, câmara, ação
Dar tempo ao tempo
Esta medida, por si só, não vem resolver o problema no imediato. Contudo, para que possamos evoluir, temos de ter um plano de médio/longo prazo. Esta recomendação por parte do Conselho Europeu tem um objetivo bem definido. Se iniciarmos um processo em que a literacia financeira esteja presente na vida dos nossos jovens desde tenra idade, no futuro, seremos uma população muito mais instruída, capaz e exigente consigo própria e com aqueles que nos representam. Em termos estratégicos, este caminho também será fundamental para que o bloco europeu tenha uma maior resiliência e esteja preparado para enfrentar as adversidades que vão surgindo, num mundo em constante evolução.
Várias velocidades
Fomentar a literacia financeira é um plano que exige diferentes velocidades. A introdução desta matéria nas escolas desde cedo resolve uma parte da questão. A outra parte da equação tem a ver com as pessoas que já são adultas. O que fazer para que esta parte da população possa melhorar os seus conhecimentos? Como é que podemos alcançar resultados no curto prazo? O Conselho Europeu também emitiu algumas recomendações neste sentido. Assim, é fundamental aumentar a sensibilidade da população para a importância do desenvolvimento de conhecimentos financeiros. Lançado o alerta, o passo seguinte é o de apresentar soluções que permitam uma evolução. Neste sentido, é importante o desenvolvimento de workshops, de ações de formação que podem e devem ser realizadas pelo Estado, mas também pelas empresas junto dos seus colaboradores. Se no longo prazo temos mais tempo para gerir a informação, no curto prazo necessitamos da coordenação entre diversos agentes, de forma que o resultado seja efetivo.
Leia ainda: Equilíbrio entre o medo e a ambição
Preocupação com o conteúdo
É muito importante termos a noção de que a forma como estes temas são apresentados têm muita influência no resultado final. O que pretendo referir é que, hoje em dia, as crianças têm muito mais estímulos, pelo que os conteúdos e a sua apresentação deverão ter isso em conta. Aprender com diversão e curiosidade é muito mais efetivo do que, simplesmente, debitar matéria sem qualquer interação. Mesmo no caso dos adultos, os workshops têm de gerar interesse e despertar curiosidade. Os mais velhos têm de perceber a importância que a informação que lhes vai ser prestada tem nas suas vidas, de forma a que não “olhem” para a formação como uma perda de tempo. Todos os pormenores são importantes e determinantes para que possamos evoluir neste campo que tanta importância tem no nosso dia-a-dia.
Eleições europeias
Estamos a poucas semanas das eleições europeias. Muitos serão os temas abordados na campanha eleitoral. Tendo em conta o projeto europeu e o desenvolvimento geopolítico no mundo, a literacia financeira deveria ser um tema bem presente na campanha para as eleições de 9 de junho. Até pela forma como os cabeças de lista foram escolhidos, seria muito importante dar ênfase a um tema que tem de ser abordado numa ótica nacional e europeia. Muito mais do que pensar nos votos dos eleitores, quem abordar este tema (se é que alguém o irá fazer), estará a colocar o interesse do desenvolvimento do país e da Europa acima de qualquer outro interesse pessoal.
Leia ainda: Saber interpretar a informação
Apaixonado pelo desporto e economia, foi jogador profissional de Futebol, tendo atuado em clubes como S.L. Benfica, Estoril, entre outros. Conciliou a carreira desportiva com a académica, terminando a licenciatura em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (NOVA SBE). Continua ligado às suas duas paixões profissionais, desempenhando a função de Financial Advisor e colaborando como analista desportivo na CNN Portugal. Foi comentador residente no programa Jogo Económico do JE e Presidente do Conselho Fiscal da Federação Portuguesa de Footgolf. (FPFG). Participa com regularidade em eventos sobre Literacia Financeira.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
Deixe o seu comentário