Quanto custa a ignorância financeira?

A ignorância financeira pode estar a sair-lhe muito cara. Comece por pequenos passos, e vai ver que nota a diferença na carteira.

Alguém disse: “Se acha que a educação é cara, imagine a ignorância…”. É bem verdade. Se ainda não mudou o seu chip financeiro há uma enorme probabilidade de andar a perder muito dinheiro sem se aperceber.

A importância da literacia financeira

Está na moda falar sobre literacia financeira, mas infelizmente acredito que até a palavra “literacia” é desconhecida para milhões de portugueses. Literacia não é saber ler, é perceber o que se lê ou se ouve. Apenas isso. E não é pouco. Quando falamos de literacia financeira, os estudos mostram que as pessoas leem e ouvem, mas não percebem o que está à frente delas. É como se estivessem a ler ou a ouvir uma língua estrangeira.

Se não fizer um esforço sério para perceber o básico dos básicos, vai perder imenso dinheiro. Não só porque vai pagar caro em juros as más opções de crédito, como não vai ganhar dinheiro com o seu dinheiro. Se juntar o que paga a mais - por ignorância e preguiça - com o que não ganhar e podia ter ganho, tem aqui a receita para a desgraça que temos atualmente em Portugal.

Ter literacia financeira não vem de termos um curso superior de economia, finanças ou gestão. Basta percebermos - seja qual for a nossa formação ou profissão - que temos de ter a consciência diária de como poupamos, gastamos, acumulamos ou investimos o nosso dinheiro. 

Significa também perceber como funciona a economia: o que é a inflação, que ferramentas financeiras existem, que riscos e benefícios têm, como se calculam juros, o que são os juros compostos e o que é um juro bruto ou líquido.

Leia ainda: O poder da literacia financeira

Ignorância financeira: Qual o preço?

Se não perceber estas coisas simples (que pode investigar no Google e está disponível para todos) estará sempre sujeito às decisões e pressões de outros, empresas e instituições.

Um bom exemplo é a “moda” da taxa fixa (ou mista) no crédito à habitação. Finalmente, em Portugal, as taxas fixas e mistas superaram os contratos feitos com taxa variável. Infelizmente, as razões para esta mudança são as piores de todas: é que em vez de ser para preparar para o futuro, está a servir para simplesmente travar os aumentos gigantes da Euribor numa altura em que ela já está no pico. Ou seja, mais uma vez, estamos a correr atrás do prejuízo.

Quando alguém faz um crédito fixo ou misto devia ser porque as taxas de juro estão baixas. Ou seja, quando a taxa fixa está barata. Neste momento, acontece justamente o contrário. Quem vai ganhar com a fixação em alta dos créditos à habitação são os bancos. Assim que a Euribor baixar, eles manterão lucros extraordinários.

Se quisesse ter taxa fixa, deveria tê-lo feito há 3 ou 4 anos quando as taxas Euribor estavam negativas. Mas, nessa altura, pareceria um contrassenso, porque a sua prestação estava baixíssima e a maior parte de nós estava a “gozar a vida”. Quem tem literacia financeira vive à frente do seu tempo. É como se tivesse uns óculos que lhe permitem ver o futuro e agir por antecipação. Todos os outros navegam à vista e vão para onde os leva o vento.

Aprenda sobre dinheiro, leia livros, tire cursos, veja vídeos no Youtube (credíveis). Consulte profissionais. Acabe com a sua ignorância e a preguiça.

Leia ainda: Podcast: Como está a literacia financeira das empresas portuguesas?

Comece por pequenos passos

Não tenha medo de errar. Esse medo é uma das principais razões para “deixarmos andar” a nossa situação. Nem deixamos de perder, nem começamos a ganhar. Tudo mau.

É incrível a quantidade de pessoas que não faz ideia de quanto estão as render as suas poupanças (depósitos a prazo ou outros). Centenas de milhares de portugueses não fazem ideia do spread que têm no crédito à habitação.  Milhões não fazem um orçamento mensal. Ou seja, estão completamente perdidos em sentido financeiro, e não fazem nada para mudar essa situação.

E esta situação é transversal à sociedade portuguesa. Há médicos, professores, engenheiros, arquitetos, gestores de empresas e até governantes que fogem de falar sobre dinheiro no que toca à sua vida pessoal. Preferem não saber, para não terem de demonstrar a sua ignorância.

Não quero pedir-lhe demasiado logo no princípio. Comece por saber que juro está a receber pelas suas poupanças. Se for inferior a 2,5% ao ano, mude já para Certificados de Aforro ou procure depósitos a prazo com juros superiores. E se tem um crédito à habitação com um spread igual ou superior a 1,2 mude rapidamente para um banco que pratique 0,7 ou menos. 

Repare como, só com duas decisões, passa imediatamente a pagar menos e a ganhar mais. Depois é só continuar nesse caminho. E olhe que tem muito por onde andar. Mas dê o primeiro passo no sentido da literacia financeira. Abra os olhos.

Leia ainda: Saber interpretar os sinais

Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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