Cultura e Lazer

Prefere energia eólica e solar ou só quer ganhar o jogo?

Embora assente no tema da produção energética, Power Grid não beneficia jogadores com consciência ambiental; mas tem lições de economia.

A versão atualizada de Power Grid, que teve a primeira edição em 2004 e se tornou num dos clássicos modernos dos jogos de tabuleiro, coloca os jogadores numa corrida para ver quem constrói a maior rede energética num dado país ou território. O final do jogo é despoletado quando alguém consegue fornecer energia à sua 17.ª cidade; e se nesse derradeiro turno ainda existe a hipóteses de superar quem estiver à frente, o importante será a escalada realizada até então. É que gerar energia, neste tabuleiro, não é tão simples quanto ligar um interruptor.

Na edificação destes impérios energéticos há alguns aspetos com especial relevância em termos de lições de economia. O mais simples passa pelo leilão das centrais à disposição dos jogadores; quem licitar mais, obviamente, fica com o equipamento em disputa, mas será preciso ter em conta o dinheiro que irá restar na conta. É que ainda precisamos de capital para financiar outras tarefas essenciais como comprar recursos no mercado e pagar a utilização das redes que transportam a eletricidade até às várias cidades do mapa.

As leis da oferta e da procura

A aquisição de matérias como petróleo, carvão, lixo e o urânio acaba por ser uma das ações mais estimulantes do jogo. Os preços destes recursos, necessários ao funcionamento das centrais energéticas, varia consoante as leis da oferta e da procura. Quanto maior for a procura de carvão, menor disponibilidade haverá dessa matéria-prima no mercado e, consequentemente, maior o preço exigido ao comprador.

Esta quase constante flutuação de preços, que pode envolver alguma manipulação pelos jogadores, obriga a decisões estratégicas, como que tipo de equipamentos se devem instalar. Se, por um lado, as opções mais evoluídas podem ser mais caras na fase da aquisição (o preço base de licitação vai sempre subindo), por outro, serão muito mais eficientes, exigindo menos recursos para produzirem maiores quantidades da ambicionada energia.

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Chegar à vitória com combustíveis fósseis? Até pode…

No caso das centrais de energia renovável, nem será necessário qualquer tipo de combustível: o sol e o vento tratam do assunto. Power Grid, no entanto, não concede vantagens a quem seja mais sensível ao tema da consciência ambiental. Há alguma diferenciação gráfica, é certo, entre a central eólica, rodeada de um prado verde e com a turbina a marcar o horizonte montanhoso, e as centrais que recorrem a carvão ou queima de lixo, as quais se mostram sob um céu cinzento e opressivo, obra do fumo negro a sair das altas chaminés. Mas não haverá nenhum bónus final para quem tiver mais estações solares; qualquer via, mesmo a mais poluente, é uma opção viável para atingir a vitória. Um pouco à imagem do mundo real?

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Dinheiro ganho, dinheiro investido

Regressemos a mais ensinamentos económicos, como este: as recompensas do investimento, muitas vezes, não são imediatas. Será com o decorrer das rondas que a aplicação sustentada e sábia de elektros (nome dado à moeda usada em Power Grid) acabará por dar frutos. E, como já vimos, isto tanto pode passar pelo armazenamento de petróleo – açambarcando a matéria-prima quando enquanto esta estiver barata no mercado –, como por investir fortemente nas energias renováveis para não depender das oscilações de preço do urânio ou do carvão.

É uma ironia que seja na fase intitulada “Burocracia” que os jogadores recebem os seus elektros, num rendimento calculado através do número de cidades a que conseguem fornecer eletricidade. Depois, é preciso não deixar parado esse dinheiro; cada cêntimo vai ser precioso para a expansão da rede, de cidade em cidade, para leiloar uma central mais modernaça, ou para comprar um recurso cada vez mais escasso e caro. E se não houver mais petróleo para abastecer o mercado? Não há. Um bom lembrete de que o planeta não se pode comprar a crédito: quando as jazidas de o petróleo se esgotarem, pois bem, esgotaram-se.

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A Península Ibérica na frente das energias renováveis

Além de algumas expansões que acrescentam novas dinâmicas, a editora e o designer de Power Grid apostaram bastante na criação de novos mapas duplos que servem para refrescar o jogo quando surgir o cansaço dos originais a representarem a Alemanha e os Estados Unidos. Há propostas para construir redes elétricas na Coreia e na China, na Austrália e na Índia, em França e na Itália, entre outras geografias. Também existe um mapa duplo que, de um lado, apresenta o Brasil, cuja escala implica custos de ligação da rede mais elevados, e, do outro, Portugal e Espanha, num tabuleiro que potencia a expansão rápida das energias nuclear e ecológica. No mapa ibérico, os jogadores precisam de manter-se competitivos em termos tecnológicos, substituindo as suas centrais que funcionam com recurso aos combustíveis fósseis.

Alguém se candidata ao título de rei do sector energético da Península Ibérica? Bem, veja lá o que faz. Não queremos que seja o principal responsável de um apagão que deixe Madrid e Lisboa sem luz durante horas e horas…

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Paulo M. Morais cresceu a jogar futebol de rua e a ouvir provérbios ditos pelas avós. Licenciou-se em Comunicação Social e especializou-se nas áreas do cinema, dos videojogos e da gastronomia. É autor de romances e livros de não ficção. Coleciona jogos de tabuleiro e continua a ver muitos filmes. Gosta de cozinhar, olhar o mar, ler.

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