O dinheiro é um tema incontornável na nossa vida. Está presente em muitas áreas do quotidiano e é raro o dia em que não temos de tomar alguma decisão financeira (mesmo que seja pequena). Assim, é importante que a consciencialização comece desde cedo.
No entanto, há pais que ainda têm dificuldade em falar de dinheiro com os filhos. Há até os que acham que este não é um tema adequado às crianças, como mostra o 1.º Barómetro de Hábitos Financeiros feito pelo Doutor Finanças em parceria com a Universidade Católica Portuguesa. Neste estudo, 16% dos inquiridos com filhos entre os seis e os 10 anos disseram que o dinheiro não é um tema para crianças.
Mas é importante que as crianças e jovens tenham algumas competências nesta área. Claro que é improvável que uma criança de 11 anos saiba compreender as condições de um crédito, mas pode, por exemplo, perceber que os pais têm de pagar uma parte do empréstimo todos os meses.
O importante é adequar o conhecimento à faixa etária. Inspirámo-nos no Quadro de competências financeiras para as crianças e os jovens na União Europeia para mostrar alguns temas que pode ir explorando com os seus filhos.
Dos 6 aos 10 anos: Os primeiros passos
As primeiras lições começam cedo, mas não precisa de ser algo muito complexo. Nesta faixa etária, as crianças podem já ter a noção de que o dinheiro pode assumir diferentes formas, incluindo notas, moedas e moedas digitais.
Além disso, compreendem que se pode guardar o dinheiro de várias formas (em casa ou no banco, por exemplo) e que este é limitado: quando se compra alguma coisa, esse dinheiro deixa de estar disponível.
Assim, esta é também uma idade em que as crianças devem começar a distinguir necessidades e desejos na hora de fazer uma compra. Ainda na temática das compras, percebem que diferentes produtos e serviços têm diferentes preços. Além disso, confirmam se o troco e os recibos estão corretos e têm confiança para se manifestar se não for o caso.
Outros conceitos interessantes de as crianças adquirirem nesta altura são os de rendimento e poupança. No primeiro, os mais novos devem compreender que existem diferentes fontes e formas de rendimento e que este não é igual para todas as pessoas. No caso da poupança, conhecem os benefícios de começar a poupar e desenvolvem esse hábito.
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Dos 11 aos 15 anos: Começar a explorar
A caminho da adolescência, os pais podem começar a ensinar os filhos a levantar dinheiro numa caixa automática. Nesta altura, os jovens podem aprofundar ainda mais a gestão do dinheiro ao fazerem um orçamento simples para cumprir objetivos de curto e longo prazo.
No capítulo da poupança, identificam objetivos de poupança realistas e específicos e elaboram um plano para os concretizar. Além disso, diferenciam juros simples e juros compostos.
Nesta faixa etária, começam a perceber que diferentes pessoas podem ter necessidades de rendimento diferentes e que estas podem mudar ao longo da vida. Os pais podem também introduzir o conceito de inflação, explicando que os preços dos produtos podem aumentar ao longo do tempo.
Numa fase da vida em que o contacto com a internet se intensifica, é importante que estes jovens tenham a confiança para recusar ofertas de produtos e serviços que não sejam necessários, não desejados ou insatisfatórios. São exemplo disso aqueles que aparecem em janelas instantâneas intrusivas, os anúncios online, os produtos promovidos por influencers ou aqueles “impostos” pela pressão social dos amigos, por exemplo.
Ainda no meio digital, os jovens devem ser sensibilizados para a existências de fraudes e burlas e que devem desconfiar quando uma oferta parecer demasiado boa para ser verdadeira.
Este é também ser um bom momento para introduzir alguns temas relacionados com o crédito. Assim, os pais podem explicar, de forma simples, alguns tipos de crédito que existem e que o compromisso de pagar o empréstimo deve ser respeitado para que não haja consequências.
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Dos 16 aos 18 anos: O caminho para a autonomia
Nos últimos passos até atingir a idade adulta, os jovens já devem compreender o que é o imposto sobre o rendimento e a forma como é aplicado. Neste contexto, devem saber distinguir entre salário bruto e salário líquido.
É uma fase em que os jovens podem estar dispostos a encontrar formas de aumentar os seus rendimentos. São exemplo disse os trabalhos em part-time ou os empregos de verão. No seguimento, têm confiança para planear e controlar as suas próprias despesas, tendo em conta os rendimentos previstos e reais.
Ainda que com a supervisão dos pais, este é um bom momento para olhar para o mundo dos investimentos. Podem aprender a procurar informações imparciais sobre produtos e a controlar regularmente algum investimento que tenham. No entanto, antes de começar, devem tentar perceber qual o seu perfil de investidor nesta fase da vida.
No tema dos créditos, devem compreender que o acesso ao crédito e as condições de crédito dependem da capacidade de endividamento e que, por vezes, é exigido um fiador ou uma garantia para obter um empréstimo.
Por fim, os jovens devem saber que os clientes bancários estão protegidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos até ao limite de 100 mil euros por banco e por depositante.
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