Cultura e Lazer

A monstruosa picada do dinheiro-abelha

Um desenho animado capaz de abordar assuntos de literacia financeira sem perder o tom divertido? Ou é uma grande palhaçada ou é mesmo coisa de super-heróis.

Um desenho animado capaz de abordar assuntos de literacia financeira sem perder o tom divertido? Ou é uma grande palhaçada ou é mesmo coisa de super-heróis.

A série de desenhos animados Teen Titans, baseada em personagens da DC Comics, é uma mistura de nonsense, ação e diálogos certeiros que fazem de cada episódio uma montanha-russa – mas sem que se saiba a direção da curva seguinte – que não é apatetada nem acriançada. É como se algumas personagens do universo DC, em que reina o sombrio Batman, realmente tivessem sido apanhadas na adolescência…

Mesmo sem superpoderes, Robin (que conhecemos como o ajudante do Cavaleiro das Trevas), assume o papel de líder de um grupo que inclui o Cyborg, metade humano metade robô, a Raven, muito tímida e misticamente poderosa, a Stargate, uma princesa voadora que envia rajadas ultravioleta, e o Beast Boy, que consegue transformar-se em qualquer animal.

Mas porque é que nos pusemos a falar deles? Porque, entre as centenas de episódios ao longo de cinco temporadas, encontramos alguns com lições divertidas e, esperemos, úteis.

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Um pedacinho de papel chamado dinheiro

Em Two Bumblebees and a Wasp (Duas Abelhas e uma Vespa), Robin relembra aos amigos que chegou a sexta-feira. O que na América dos ordenados semanais, é dia de receber. "Onde é que vão gastar o dinheiro?", pergunta Robin. Todos revelam os seus desejos. Raven, por exemplo, quer comprar livros e mais livros. Para o líder, está tudo errado. "O dinheiro não foi feito para se desperdiçar em coisas que nos trazem felicidade e alegria", avisa. "O dinheiro é para se juntar até se ter suficiente para que o dinheiro possa gerar mais dinheiro."

Cyborg: – E gastas esse dinheiro depois.

Robin: – Não, também juntas esse dinheiro.

A conversa é o suficiente para Beast Boy considerar que, como se costuma dizer, o dinheiro é a origem de todos os males. Uma coisa verdadeiramente má, sem coração. Porém, Robin está em desacordo e até conhece alguém que o fará mudar de ideias. Quem? A mítica nota de um dólar, com a figura de George Washington bem ao meio. E é esta nota, manipulada por Robin como se fosse um fantoche, que pretende servir uma lição sobre o que é o dinheiro.

– Como é que posso ser mau se sou apenas um pedacinho de papel? – pergunta a figurinha de George Washington, em nome do dinheiro.

De facto, como é que um papelinho pode ser dinheiro, questiona Cyborg? E ouve a pronta resposta: "Eu sou papel, mas também sou dinheiro. Sou apenas uma representação de crédito, algo que se usa para trocar por bens e serviços, por isso posso ser tudo. Até papel."

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E se fossem pedras ou ananases, também dava?

Robin pega numa nota de 1 dólar, mostrando aos amigos

Está lançada a discussão.

Raven: – O dinheiro pode ser um ananás?

Nota de dólar: – Sim, claro, se toda a gente concordar com isso.

Cyborg: – O dinheiro pode ser pedras?

Nota de dólar: – Com certeza.

O dinheiro podia, por exemplo, ser a cara parva do Robin? Tanto já não. O George Washington da nota de dólar exige mais respeito. Que o tratem por senhor, ou por Dr. Dinheiro. "Agora ajoelhem-se perante mim, senão destruo-os a todos."

Um bocadinho irascível, não? Para Beast Boy, eis a confirmação de que o dinheiro é mau e, zás, trata de rasgar a nota a meio e depois em pedacinhos. Para Robin, aquilo foi longe de mais.

– Acabou! nenhum de vocês vai receber enquanto não respeitarem o dinheiro – avisa.

O cenário agrada a Beast Boy. Sem dinheiro, acaba-se a maldade, certo? O pior é que os amigos querem comprar coisas. "Eu desejo trocar moeda por bens ou então serviços", diz Star. "Pois é, as pessoas precisam de dinheiro", reforça Raven. Não seria melhor respeitarem o dinheiro, conforme pedido por Robin? Mas Beast Boy não está pelos ajustes. Nem pensar, enquanto o dinheiro for mau. Só se…

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Se todos concordarem pagar em abelhas…

Lembram-se que o dinheiro, se acordado por todos, pode ser qualquer coisa? Que tal, então, substituir os dólares por… abelhas? Vejamos como poderia funcionar.

Ao entrar na sala, Robin vê que o amigo está a vender pizza.

– Em honra do comércio, posso comprar uma fatia? – apressa-se a perguntar, sacando de uma nota. Mas Beast responde que o preço são 5 abelhas por uma fatia de pizza.

– Abelhas? Então e se eu ter der 1 dólar?

– Aqui só aceitamos dinheiro a sério. Abelhas, meu.

– As abelhas não são dinheiro, meu.

– Tu próprio disseste, Robin, que o dinheiro representa crédito, por isso o dinheiro pode ser qualquer coisa. Eu escolho abelhas.

– Mas as abelhas não são a moeda acordada. Ninguém vai pagar-te abelhas!

Aí é que ele se engana. Star pede um triângulo de pizza e paga as cinco abelhas. Raven paga a sua pizza com uma abelha-mestra e recebe troco de duas abelhas e uma vespa. Tudo aquilo é ridículo para Robin, mas, desesperado, ainda tenta que lhe aceitem três moscas por uma fatia. Nada feito. Os amigos relembram-lhe que o dinheiro precisa de ser respeitado. Neste caso, Robin precisa de respeitar o dinheiro-abelha.

– Eu só respeito o dinheiro em papel – defende Robin.

– Isso não te vai levar a lado nenhum – avisa Raven.

E, de facto, nem na Rua Fácil se consegue comprar um cachorro-quente com dólares. De repente, só se aceitam abelhas e as verdinhas apenas servem para fazer uma fogueira.

Milionários gananciosos e outras coisas do género

Beast Boy ficou milionário, criando um império com abelhas

Beast Boy, como se fosse um génio das criptomoedas, torna-se milionário. Faz negócios aos milhares de abelhas, compra cenas de ricaço, mas aceita receber o amigo que caiu na pobreza.

– Obrigado por me receberes – diz o desgraçado Robin.

– Ora essa. É graças a ti que tenho isto tudo. Disseste-me para respeitar o dinheiro e agora sou o homem mais rico do mundo. Em que te posso ajudar?

– Eu, aham, só preciso de algumas abelhas para me pôr nos eixos…

– Detesto ver-te sofrer, Robin, mas eu não posso dar-te simplesmente abelhas. Assim não ias aprender a respeitar o teu dinheiro.

Já ouviram falar do feitiço contra o feiticeiro? Acontece que o dinheiro-abelha tinha um grande problema. É que, ao receber-se, picava. Beast Boy enriquecera tanto que já nem notava as constantes picadelas. Só queria mais. Mais. O amigo também queria? Que se humilhasse a dançar por abelhas. O novo milionário transformara-se num monstro insensível.

– É isto que acontece quando deixamos que o dinheiro nos consuma: transforma-nos em monstros! – exclama Robin, ao ver o amigo com a cara num bolo por causa das incontáveis picadelas. Mas para Raven, talvez fosse só uma reação alérgica…

Enfim, umas cacetadas e uma ambulância depois, Beast Boy recupera a normalidade. Lição aprendida?

– Desculpem, malta. Não sei como é que me deixei levar pela ganância do dinheiro.

– Bem, todos nós aprendemos algo importante – assegura Robin. – Quem disse que o dinheiro é a origem de todos os males, enganou-se e bem.

– É verdade – corrobora Raven. – O verdadeiro perigo é a alergia a abelhas.

Mas o que vai mesmo picar aos Teen Titans é a conta do hospital. Essa, vão ter de pagar em dólares, sejam notas de papel ou dígitos numa conta bancária. É que a época do dinheiro-ananás já passou, e a do dinheiro-abelha, que saibamos, ainda não transitou dos desenhos animados.

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Paulo M. Morais cresceu a jogar futebol de rua e a ouvir provérbios ditos pelas avós. Licenciou-se em Comunicação Social e especializou-se nas áreas do cinema, dos videojogos e da gastronomia. É autor de romances e livros de não ficção. Coleciona jogos de tabuleiro e continua a ver muitos filmes. Gosta de cozinhar, olhar o mar, ler.

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