O Banco Central Europeu (BCE) avançou esta quinta-feira, 5 de junho, com mais uma descida das taxas de juro de referência da Zona Euro, a oitava do ciclo de alívio da política monetária iniciado há um ano.
Num contexto de inflação controlada e novas incertezas sobre a evolução da economia do euro, o banco central anunciou um corte de 25 pontos base na taxa aplicável aos depósitos, elevando para 200 pontos base a redução acumulada ao longo deste ciclo. A taxa de referência do BCE cai, assim, para 2%, metade do máximo de 4% fixado em meados de 2023.
“O Conselho do Banco Central Europeu (BCE) decidiu hoje reduzir as três taxas de juro diretoras do BCE em 25 pontos base. Em particular, a decisão de reduzir a taxa de juro aplicável à facilidade permanente de depósito – a taxa através da qual o Conselho do BCE define a orientação da política monetária – baseia-se na avaliação atualizada do Conselho do BCE das perspetivas de inflação, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária”, lê-se no comunicado.
Assim, a taxa de juro aplicável à facilidade permanente de depósito desce para 2%, a aplicada às operações principais de refinanciamento para 2,15%, e à facilidade permanente de cedência de liquidez para 2,40%, com efeitos a partir de 11 de junho de 2025.
A decisão do BCE surge depois de ter sido divulgado que a taxa de inflação na Zona Euro desceu de 2,2%, em abril, para 1,9% em maio, muito próxima da meta de 2% do banco central. Ao mesmo tempo, o crescimento económico continua lento, com os dados mais recentes a demonstrarem uma subida de apenas 0,3% do PIB na região da moeda única no primeiro trimestre do ano. Sobre o ‘outlook’ pairam, entretanto, uma série de incógnitas, internas e, sobretudo, externas, com destaque para a política comercial dos Estados Unidos.
BCE revê em baixa estimativas para a inflação
A eventual intensificação das tensões comerciais é precisamente um dos fatores apontados pelo BCE que podem afetar as perspetivas para a inflação e crescimento económico, agora revistas pelos especialistas do banco central.
O BCE reviu em baixa as estimativas para a inflação em 0,3 pontos percentuais, antecipando agora que se vai situar em 2% em 2025, 1,6% em 2026 e 2% em 2027. Já a inflação excluindo preços dos produtos energéticos e dos produtos alimentares deverá ser, em média, de 2,4% em 2025 e 1,9% em 2026 e 2027.
Quanto ao crescimento económico, as projeções mantêm-se inalteradas, com o BCE a apontar para um crescimento do PIB de 0,9% em 2025, 1,1% em 2026 e 1,3% em 2027. “A projeção não revista quanto ao crescimento em 2025 reflete um primeiro trimestre mais forte do que o esperado, combinado com perspetivas mais fracas para o resto do ano”, justifica o banco central.
E continua: “Embora se espere que a incerteza em torno das políticas comerciais pese sobre o investimento empresarial e as exportações, sobretudo no curto prazo, o aumento do investimento público em defesa e infraestruturas apoiará cada vez mais o crescimento no médio prazo. Rendimentos reais mais elevados e um mercado de trabalho robusto permitirão às famílias gastar mais. A par de condições de financiamento mais favoráveis, tal deverá tornar a economia mais resiliente a choques mundiais”.
Leia ainda: Inflação mata depósitos. Então, onde investir?
Corte de juros do BCE: Qual o impacto para as famílias?
Para a generalidades das famílias, as decisões do BCE relativamente às taxas de juro de referência são sentidas no custo de financiamento e nas taxas dos depósitos, ou seja, naquilo que pagam ao banco pelos seus empréstimos e naquilo que recebem pelas suas poupanças.
Com o BCE a decretar uma descida de 25 pontos base na taxa aplicável aos depósitos, os bancos recebem 0,25% menos pelos depósitos que têm no banco central e, com isso, também vão pagar menos aos seus clientes. Isso é bem visível nos depósitos com prazos mais curtos, cuja remuneração tende a seguir de perto a taxa de referência do BCE.
Essa diminuição da remuneração paga pelos bancos já é, aliás, bem visível. De acordo com os dados do Banco de Portugal, nos novos depósitos a particulares, a taxa de juro média caiu de 1,69%, em março, para 1,64%, em abril, o que compara com o máximo de 3,08% alcançado em dezembro de 2023.
Se recebem menos pelas suas poupanças, os consumidores também pagam menos pelos seus créditos, como é o caso do crédito habitação. Como a Euribor tende a acompanhar (e até antecipar) os juros do BCE, os créditos com taxa variável acabam por refletir as decisões do regulador. Com mais ou menos rapidez, dependendo do prazo do indexante.
Nos produtos com taxa fixa e prazo mais longo, mais do que refletir a realidade atual da política monetária e as suas pequenas alterações, os juros tendem a espelhar as expectativas futuras.
Leia ainda: Crédito habitação com juros mais baixos desde dezembro de 2022