A compra de carro é um dos compromissos financeiros mais significativos das famílias portuguesas. Por isso, uma escolha ponderada evita arrependimentos e poupa dinheiro a longo prazo.
Mais do que o preço, deve avaliar o uso diário, os custos escondidos e as opções de financiamento. O mercado está cheio de propostas, mas nem todas respondem às necessidades de quem compra.
Neste guia, saiba como preparar cada passo: da escolha do modelo ao crédito e ao seguro. Descubra como comparar, decidir com confiança e proteger o seu investimento.
Como escolher o carro certo para o seu estilo de vida
A compra de carro deve começar muito antes de entrar num stand. O primeiro passo é perceber se o veículo vai realmente servir o dia a dia. O erro mais comum é escolher pelo aspeto ou pela promoção do momento, esquecendo as necessidades reais.
Analise o seu estilo de vida: quantos quilómetros faz por ano, se circula mais na cidade ou em autoestrada, se precisa de espaço para a família, bagagem ou animais de estimação. Avalie também onde vai estacionar e se tem acesso fácil a carregadores, caso esteja a ponderar um elétrico.
Um bom planeamento evita custos inesperados com combustível, manutenção ou seguros mais caros. Um carro deve ser uma solução prática e sustentável, não um peso no orçamento.
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Conheça o ciclo de vida do seu carro
Quanto pode gastar na compra de um carro?
Definir um orçamento realista é crucial. O valor da compra não se resume ao preço afixado no stand. Inclui impostos, taxas, seguro, combustível e manutenção ao longo dos anos.
Se precisar de financiamento, comece por calcular quanto pode suportar por mês sem comprometer outras despesas. O Banco de Portugal recomenda que a taxa de esforço global não ultrapasse os 30% do rendimento líquido do agregado, sendo o limite máximo legal de 50%.
Recorrendo ao crédito automóvel, tenha em conta que um prazo mais longo reduz a prestação, mas aumenta o custo total com juros. Comprar um carro que obrigue a cortar noutros gastos essenciais é um risco elevado.
Dito isto, defina limites claros: preço total, prestação máxima e custos fixos anuais. Inclua combustível/eletricidade, seguro, IUC, manutenção e estacionamento. Monte um “orçamento de propriedade”, não apenas de aquisição.
Se a “conta total” não cabe no orçamento, ajuste: escolha um segmento abaixo, um motor mais eficiente ou alongue o prazo (sabendo que os juros totais sobem). O objetivo é sustentabilidade, não esticar ao limite. Recorde que um carro começa a desvalorizar assim que sai do stand. Um bom negócio é o que serve as suas necessidades pelo menor custo total, não o que tem o maior desconto.
Avalie as suas necessidades
O mercado oferece inúmeros modelos, mas nem todos fazem sentido para o seu perfil. Liste os requisitos que considera indispensáveis.
O número de passageiros é o primeiro fator a considerar. Para quem transporta crianças, confirme se a largura do banco traseiro permite instalar cadeiras de segurança com conforto. Se costuma viajar com muita bagagem, analise a capacidade da mala em litros e a facilidade de acesso.
Evite comprar um veículo maior do que precisa. Um SUV ou carrinhas grandes podem parecer práticas, mas consomem mais combustível, pagam seguros mais altos e exigem mais espaço para estacionar.
Além disso, a potência deve servir o uso, não o ego. Motores pequenos com turbo são suficientes para circular na cidade e na autoestrada. Se reboca, verifique peso rebocável e binário. Caso pondere comprar um carro usado peça histórico de manutenção.
Por fim, considere um check-up independente. Embora seja uma despesa extra, é barata face ao risco de comprar “às cegas”.
Pense na utilização diária do carro
O tipo de utilização influencia diretamente a escolha do motor e do modelo. Quem circula diariamente na cidade deve privilegiar carros compactos, com consumos reduzidos e boa visibilidade. Sistemas de apoio à condução, como travagem autónoma e sensores de estacionamento, ajudam na segurança urbana.
Para viagens longas e frequentes, o conforto é determinante: bancos ergonómicos, bom isolamento acústico, cruise control e grande autonomia fazem a diferença.
Se faz poucos quilómetros anuais, evite diesel: os filtros de partículas podem entupir com trajetos curtos e motor frio. Neste caso, gasolina, híbrido ligeiro ou elétrico são alternativas mais indicadas.

Novo ou usado: Qual compensa mais?
Depois de definir as suas necessidades e o uso previsto, chega o momento de decidir se a compra de carro deve recair sobre um modelo novo ou um usado.
A compra de carro novo oferece garantia total e acesso às tecnologias mais recentes, mas implica maior investimento inicial e forte desvalorização nos primeiros anos. O ISV é calculado sobre o preço base e pode aumentar bastante o valor final.
Já os carros usados têm um preço mais acessível e já absorveram a maior parte da perda de valor. Contudo, podem exigir manutenção mais frequente e ter garantias mais curtas.
Compare o custo total de propriedade (TCO) durante cinco a sete anos: some o preço de compra, combustível, seguro, impostos, manutenção e valor de revenda estimado. Muitas vezes, um usado recente pode ser financeiramente mais vantajoso.
Diferenças de preço, fiabilidade e desvalorização
A desvalorização é inevitável, mas varia consoante a marca, modelo e procura no mercado. Carros populares mantêm melhor valor residual. Modelos de frotas e rent-a-car tendem a desvalorizar mais depressa nos primeiros anos.
A fiabilidade também pesa. Um carro com preço de compra baixo, mas com histórico de avarias pode gerar custos superiores a médio prazo. Verifique relatórios de fiabilidade de entidades independentes e consulte avaliações de oficinas e seguradoras. Uma taxa de financiamento ligeiramente melhor num carro “menos fiável” pode sair caro.
Em veículos elétricos, avalie o estado da bateria, pois o custo de substituição é elevado e influencia diretamente o valor de revenda. Além disso, avalie o histórico de carregamentos e a garantia do fabricante. Marcas com política de substituição de módulos e garantia transparente mantêm melhor valor residual.
Quando vale a pena comprar um carro usado certificado
Um usado certificado oferece maior tranquilidade, mas é importante perceber o que está incluído. Estes programas, criados por concessionários ou marcas, garantem que o veículo passou por uma inspeção completa, revisão recente e tem pneus e travões em bom estado.
Incluem ainda uma garantia comercial adicional, além da garantia legal obrigatória. Apesar de serem ligeiramente mais caros do que usados “normais”, reduzem o risco de surpresas e podem oferecer assistência em viagem e viatura de substituição.
Mas atenção. É preciso ler ao detalhe o que está incluído e excluído no programa. Não se foque apenas nas informações que estão em destaque. Leia todas as cláusulas com atenção para garantir que o preço que está a pagar pela “certificação” comercial compensa.
Por fim, tenha atenção ao Documento Único Automóvel (DUA), o registo de inspeção e, no caso de carros importados, o certificado de homologação.
Leia ainda: O que é necessário para legalizar um carro trazido do estrangeiro?
Tipos de financiamento para a compra de carro
Ao planear a compra de um carro sem capitais próprios suficientes, é essencial perceber que tipo de financiamento se adapta ao orçamento familiar.
O crédito automóvel tradicional é o mais usado. Permite comprar o carro de imediato, pagando em prestações mensais. Existem duas variantes: com reserva de propriedade (o banco mantém direito legal sobre o carro até a dívida estar liquidada) e sem reserva de propriedade (o veículo fica em nome do comprador desde o início).
Além do crédito, há alternativas de locação, como o leasing e o ALD (aluguer de longa duração). Depois, fora dos financiamentos, tem sempre a solução de renting.
Mas é preciso perceber as diferenças entre cada uma destas opções que preveem que o comprador pague uma renda mensal. No caso do leasing, pode exercer a opção de compra no final. No ALD, a compra costuma ser obrigatória. No renting, o carro é devolvido no fim do contrato.
Leia ainda: Como escolher o melhor crédito automóvel para si
Crédito automóvel: Prazos e taxas de juro
Depois de escolher o tipo de financiamento mais adequado à compra de carro, é essencial perceber os custos reais associados ao crédito automóvel.
Os prazos variam normalmente entre 12 e 120 meses. Quanto mais longo o prazo, mais baixa será a prestação mensal. No entanto, maior é o custo total em juros. O ideal é equilibrar a prestação com a duração do contrato para não comprometer o orçamento familiar.
Outro ponto crucial são as taxas de juro. O Banco de Portugal define taxas máximas permitidas para novos contratos. No 4.º trimestre de 2025, os limites em vigor são:
- Crédito automóvel para veículos novos: TAEG máxima de 10,8%;
- Crédito automóvel para veículos usados: TAEG máxima de 14,2%;
- Locação financeira ou ALD para veículos novos: TAEG máxima de 5,4%;
- Locação financeira ou ALD para veículos usados: TAEG máxima de 6,9%.
Estes valores incluem todos os encargos associados ao crédito (juros, comissões, seguros obrigatórios). Um contrato com TAEG acima destas taxas é ilegal. Por isso, peça sempre a Ficha de Informação Normalizada (FIN) antes de assinar.
Leia ainda: Taxas máximas descem em quase todos os créditos ao consumo no 4.º trimestre
Leasing, ALD e renting: Vantagens e limitações
O leasing e o ALD são formas de locação financeira que permitem utilizar um carro sem o comprar de imediato. A instituição de crédito compra o veículo e o consumidor paga rendas mensais durante um prazo definido.
No leasing, existe uma opção de compra no fim do contrato. É comum ter rendas mais baixas do que o crédito automóvel tradicional e costuma ser usado por empresas devido às vantagens fiscais. A limitação é que o carro não pertence ao consumidor durante o contrato e há regras mais rígidas sobre manutenção e seguros.
O ALD (aluguer de longa duração) funciona de forma semelhante, mas a compra no fim é quase sempre obrigatória. Pode incluir serviços de manutenção e assistência em viagem, permitindo planear melhor os custos mensais. No entanto, oferece pouca flexibilidade para sair antes do prazo sem penalizações.
Já o renting é um aluguer operacional. Paga-se uma renda fixa que inclui seguro, manutenção, pneus e IUC, e no fim o carro é devolvido. É prático para quem troca de carro com frequência, mas nunca se adquire o veículo e pode haver custos por excesso de quilómetros ou desgaste.
Antes de escolher, compare os custos totais e a flexibilidade de cada opção.
Leia ainda: Crédito automóvel, leasing ou renting? Como escolher
Posso liquidar o contrato antes do fim?
Se a situação financeira mudar, pode surgir a necessidade de liquidar o contrato antes do prazo. Nos contratos de crédito automóvel, é possível fazer o reembolso antecipado. O consumidor paga o capital em dívida e, se aplicável, uma comissão de reembolso. A lei limita essas comissões:
- 0,5% do capital se faltar mais de um ano para o fim;
- 0,25% se faltar um ano ou menos;
- 0% se a taxa de juro for variável. Ou seja, não se aplica a comissão de reembolso antecipado.
Amortizar o crédito antecipadamente pode poupar juros, mas é preciso avaliar os custos. Nos contratos de crédito ao consumo, as instituições são obrigadas a fornecer uma simulação do valor a pagar em caso de liquidação antecipada. Este valor inclui o capital em dívida, os juros acumulados até à data e a comissão permitida por lei.
Já no leasing, ALD e renting não existe o direito automático de rescisão. É necessário negociar com a instituição, podendo implicar o pagamento das rendas vincendas, do valor residual e de penalizações previstas no contrato. Por isso, deve ler com atenção as cláusulas sobre saída antecipada antes de assinar.
Leia ainda: Compensa amortizar um crédito automóvel?
Transferência do crédito automóvel
Se encontrar uma proposta mais vantajosa para si, pode transferir o crédito automóvel para outra instituição, que irá liquidar o valor em dívida no outro banco e dar início a um novo crédito com as condições acordadas.
Na prática, a transferência de crédito automóvel é uma alternativa para quem quer aliviar o peso das prestações mensais. Permite baixar a taxa de juro, caso tenha uma TAN superior a 10%, ajustar o prazo do contrato, uma vez que este começa a contar do zero e pode chegar aos 120 meses, ficando com uma prestação mais leve. Esta transferência permite ainda eliminar a reserva de propriedade, passando o carro a estar totalmente em seu nome.
Ao reduzir a prestação, ganha margem no orçamento e maior liberdade financeira. Pode usar essa folga para reforçar a poupança, investir ou simplesmente equilibrar as contas do mês. Além disso, evita pagar mais do que precisa, já que o novo contrato é feito com base nas condições atuais do mercado, muitas vezes mais favoráveis do que as do momento em que contratou o crédito inicial.
Contudo, a transferência automóvel pode não ser vantajosa para todos os titulares de um crédito automóvel. Por norma, é indicada para quem quer eliminar a reserva de propriedade ou reduzir as prestações mensais.
Leia ainda: Transferência de crédito automóvel: Poupe na prestação do seu carro
Carros usados: Cuidados essenciais antes de assinar
Comprar um carro usado pode ser um bom negócio, mas requer atenção redobrada. Antes de assinar, faça uma inspeção mecânica independente.
Peça o histórico de manutenção e as inspeções anteriores. Além disso, verifique com atenção se o vendedor tem os documentos do veículo em dia.
Não se precipite na compra de um automóvel usado, nem entregue um sinal sem ver a documentação completa do carro e sem contrato assinado.
Documentos obrigatórios
A compra de carro só fica concluída quando toda a documentação está em ordem. Ignorar este passo pode trazer problemas legais.
Nos carros usados, deve exigir:
- Documento Único Automóvel (DUA) ou Certificado de Matrícula;
- Declaração de compra e venda ou fatura (no caso de stand);
- Comprovativo da última inspeção periódica obrigatória (IPO);
- Livro de revisões e faturas de manutenção.
Se o carro for importado, é também necessário apresentar o certificado de homologação e o Documento Aduaneiro de Veículos (DAV).
Confirme ainda que não existem penhoras, reservas de propriedade ou outros ónus registados no DUA. Pode consultar esta informação no portal Automóvel Online. Só depois de verificar estes elementos deve avançar com o registo em seu nome.
Verificação mecânica e histórico de acidentes
Não existe em Portugal uma base de dados pública com o histórico completo de sinistros de um carro. Por isso, é essencial fazer uma verificação independente antes de comprar.
Leve o carro a um mecânico de confiança para avaliar travões, suspensão, direção, caixa de velocidades, embraiagem e eletrónica. Peça também a leitura da centralina para detetar avarias registadas.
Compare a quilometragem com as inspeções anteriores e os registos do livro de revisões. Quilometragens incoerentes podem indicar adulteração do contador. Examine o carro à luz do dia e em solo seco: diferenças de cor, soldaduras irregulares e folgas podem denunciar acidentes anteriores.
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Garantia e assistência: O que deve exigir
Se comprar o carro a um profissional, está protegido pela garantia legal de conformidade, que cobre defeitos que surjam após a compra. Esta garantia é de três anos por regra para bens novos e usados, podendo ser reduzida para 18 meses por acordo escrito no caso de usados (Decreto-Lei n.º 84/2021).
Confirme a duração e as condições da garantia comercial adicional, se existir. Verifique o que está incluído e as exclusões (por exemplo, peças de desgaste rápido como travões ou pneus normalmente estão excluídas da garantia).
Quanto à assistência em viagem e revisões incluídas, estas não são obrigatórias por lei quando se compra um veículo. Mas em algumas campanhas ou programas de usados certificados, podem estar disponíveis por um preço acrescido.
Período da garantia legal: Como funciona?
O prazo da garantia começa a contar na data da entrega do carro. Se, durante esse período, o veículo apresentar falta de conformidade, o vendedor é obrigado a reparar, substituir, reduzir o preço ou resolver o contrato.
Se o carro ficar imobilizado na oficina, o prazo de garantia é suspenso durante os dias em que não o pode utilizar. Guarde sempre as ordens de reparação e as faturas para comprovar esse tempo.
Entre particulares não existe garantia de consumo. Por isso, em negócios entre particulares, a inspeção de pré-compra torna-se ainda mais importante.
Assistência em viagem e revisões incluídas
Alguns programas de usados certificados e contratos de ALD ou renting incluem serviços adicionais, como revisões programadas, pneus e assistência em viagem.
Estes pacotes oferecem conveniência e custos previsíveis, mas devem ser avaliados com atenção. Verifique se incluem carro de substituição, limites de quilometragem e exclusões, como uso no estrangeiro ou condutores com menos de 25 anos.
Compare o custo de incluir a manutenção no contrato com o custo de fazer as revisões num mecânico de confiança. Em alguns casos, o valor pago a mais não compensa os serviços oferecidos.
Seguro automóvel: Como escolher a melhor proteção?
Todos os carros em circulação devem ter seguro de responsabilidade civil automóvel. É obrigatório por lei e cobre os danos causados a terceiros. Segundo o Decreto-Lei n.º 26/2025, os capitais mínimos em 2025 são de 6,45 milhões de euros para danos corporais e 1,3 milhões de euros para danos materiais, por sinistro.
Circular sem seguro é punível com coimas elevadas, apreensão do veículo e a obrigação de pagar todos os danos causados a terceiros em caso de acidente.
Além do seguro obrigatório, pode contratar coberturas facultativas para proteger o seu próprio carro. Nos veículos novos, financiados ou de valor elevado, vale a pena ponderar um seguro de danos próprios, mesmo que com franquia. Porém, tenha em consideração que o valor do prémio será sempre mais elevado.
Assim, compare sempre várias seguradoras e leia as condições gerais e especiais antes de assinar. O mais barato pode excluir riscos importantes, como fenómenos da natureza ou atos de vandalismo.
Seguro obrigatório vs. seguro contra todos os riscos
O seguro obrigatório apenas cobre os danos que causar a terceiros, nunca os danos do seu próprio carro se for considerado culpado no acidente.
Já o chamado “seguro contra todos os riscos” é a designação informal do seguro de danos próprios. Cobre os danos do seu veículo em situações de choque, colisão ou capotamento, mesmo que tenha culpa no acidente, desde que respeite as condições e franquias definidas na apólice.
Nos carros elétricos, confirme se a apólice cobre danos na bateria, nos cabos de carregamento e nos postos de carregamento domésticos. Também deve verificar se a seguradora paga o valor em novo ou o valor de mercado em caso de perda total.
Este tipo de seguro é mais caro, mas garante maior proteção financeira, sobretudo nos primeiros anos de utilização.
Leia ainda: Vale sempre a pena ter um seguro auto de danos próprios?
Franquias, coberturas e bónus/malus
As condições do seguro automóvel podem alterar muito o valor do prémio e a proteção que oferece. Por isso, é crucial compreender três conceitos-chave: franquias, coberturas e bónus/malus.
A franquia é a parte do prejuízo que fica a seu cargo em caso de sinistro. Quanto mais alta for a franquia, mais baixo será o prémio do seguro. Mas também maior será o risco de suportar custos elevados se tiver um acidente. Por exemplo, se tiver uma franquia de 500 euros, pagará sempre esse valor em caso de sinistro.
As coberturas determinam os riscos que o seguro assume. Além da responsabilidade civil obrigatória e dos danos próprios, pode incluir fenómenos da natureza (tempestades, cheias, granizo), quebra isolada de vidros, furto, atos de vandalismo e assistência em viagem.
Já o sistema bónus/malus ajusta o preço do seguro ao histórico de sinistros. Se passar vários anos sem acidentes, o prémio baixa. Mas se tiver um sinistro com culpa, pode subir consideravelmente. É uma forma de premiar a condução segura e penalizar o risco.
Leia ainda: Qual a diferença entre copagamento e franquia?
Impostos e despesas anuais do carro
A compra de carro não termina na assinatura do contrato. Depois da compra, surgem despesas fixas que vão pesar todos os anos no orçamento familiar.
O Imposto Único de Circulação (IUC) é pago todos os anos, enquanto o carro estiver registado. O valor depende da cilindrada, das emissões de CO₂, do combustível e do ano da matrícula. Os veículos 100% elétricos estão isentos de IUC.
Além do IUC, há as inspeções periódicas obrigatórias (IPO). Também é preciso contar com manutenção regular (óleo, filtros, pneus, travões), seguro automóvel e combustível ou energia elétrica.
Somar todos estes custos ajuda a perceber o verdadeiro peso de um carro no orçamento familiar.
IUC, inspeções periódicas e manutenção preventiva
IUC – Imposto Único de Circulação
O IUC deve ser pago no Portal das Finanças até ao fim do mês da matrícula do carro. Se não o fizer dentro do prazo, fica sujeito a juros e coimas. Mesmo que não utilize o veículo, enquanto estiver matriculado tem de pagar o imposto.
Contudo, a partir de 2026, todos os proprietários têm de liquidar o IUC no mês de fevereiro. Já se o pagamento for feito em duas prestações, quando o valor for superior a 100 euros, deverá acontecer em fevereiro e outubro.
Leia ainda: IUC deixa de ser pago no mês da matrícula… mas só em 2026
Inspeção periódica a veículos ligeiros
As inspeções periódicas são obrigatórias e essenciais para garantir a segurança rodoviária. Legalmente, a primeira inspeção deve ser marcada quatro anos depois da data da primeira matrícula. Depois, as inspeções seguintes são feitas a cada dois anos, até a matrícula completar oito anos. Após este período, a inspeção deve ser realizada anualmente.
Nota: Em 2025, a inspeção de veículos ligeiros tem o preço de 36,64 euros (incluindo valor do IVA a 23%).
Se não passar na inspeção, não pode circular legalmente. Se o fizer, sujeita-se a uma coima, que pode ir de 250 euros a 1.250 euros. Deve tratar das incidências registadas no prazo de 30 dias e voltar com o veículo à inspeção para que esta fique válida. Guarde sempre os comprovativos da inspeção do seu carro.
Leia ainda: Inspeção automóvel: O que acontece em caso de reprovação?
Nota: O valor da reinspeção (2025) é de 9,18 euros (incluindo valor do IVA a 23%). Pode consultar todos os valores relativos às tarifas de inspeção no Diário da República, mas tenha em conta que os preços apresentados não incluem IVA.
Manutenção do automóvel
A manutenção preventiva deve ser planeada de acordo com as recomendações do fabricante e com o tipo de utilização. Verifique regularmente o estado dos pneus, pastilhas de travão, escovas limpa-vidros, luzes, filtros, óleos e correias. Uma manutenção atempada evita avarias dispendiosas e prolonga a vida útil do carro.
Assim, é recomendado que tenha registos sempre que substitui uma peça, mude óleos, luzes, etc. Desta forma, pode verificar se a substituição ocorre dentro do período indicado pelo fabricante ou se está a existir um desgate mais rápido do que é suposto. Se isso acontecer, pode existir um problema adicional que precisa de ser resolvido para evitar danos em outras peças.
Leia ainda: Poupar na manutenção do carro: 15 dicas para evitar despesas extra
Como comparar custos entre modelos
Quando estiver a escolher entre vários modelos, não compare apenas o preço de compra. Analise o custo total de propriedade (TCO) para perceber qual será mais económico a médio e longo prazo.
Este cálculo deve incluir:
- Preço de compra menos o valor de retoma estimado;
- Consumo de combustível ou eletricidade;
- Seguro automóvel;
- IUC e inspeções;
- Manutenção e pneus;
- Juros e comissões se recorrer a financiamento.
Calcule com base no número de quilómetros anuais que costuma fazer e no tipo de percursos (urbano ou autoestrada). Um modelo mais caro pode acabar por compensar se tiver consumos mais baixos, menor desvalorização e seguros mais acessíveis.
Em elétricos, conte com custos de carregamento em casa e em público, possíveis tarifas de potência, e a poupança em manutenção (menos peças móveis).
Já em híbridos plug-in, o benefício depende de carregar regularmente. Sem carregamentos regulares, podem consumir mais do que um carro a gasolina eficiente.

Consumo e impacto ambiental: Pense além do preço
Os valores de consumo e emissões indicados pelas marcas seguem o ciclo WLTP (Worldwide harmonized Light vehicles Test Procedure), mais próximo do uso real do que os antigos testes NEDC (New European Driving Cycle), mas ainda assim podem variar consoante a condução, carga e temperatura.
Se conduz maioritariamente em cidade, os híbridos e elétricos destacam-se pela eficiência e pela ausência de emissões locais.
Já em percursos longos e a alta velocidade, os motores a gasolina ou gasóleo eficientes podem ser mais consistentes e garantir maior autonomia.
Um carro com baixas emissões polui menos, paga menos IUC e pode beneficiar de incentivos fiscais. Também pode manter melhor valor de revenda no futuro, já que a transição para uma mobilidade mais limpa está a acelerar em Portugal e na União Europeia.
Motores a gasolina, gasóleo, híbridos e elétricos
Cada tipo de motor tem vantagens e desvantagens. A escolha deve assentar no uso que prevê fazer do carro.
Elétricos: não emitem gases de escape, têm manutenção mais simples e custo por quilómetro baixo. Exigem planeamento de carregamentos e atenção à autonomia em viagens longas.
Gasolina: indicada para percursos curtos e urbanos. Os motores aquecem rapidamente e sofrem menos desgaste em trajetos pequenos. Emite menos óxidos de azoto do que o gasóleo, mas consome mais combustível e tem custos de utilização ligeiramente superiores.
Gasóleo: ideal para quem faz muitos quilómetros em estrada. Afinal, muitos carros a gasóleo têm consumos mais reduzidos. Contudo, os filtros de partículas são sensíveis a percursos curtos, o que pode originar uma despesa adicional elevada. Além disso, o seguro e o IUC podem ser mais caros.
Híbridos: combinam motor a combustão e elétrico. São muito eficientes em cidade, onde recuperam energia ao travar. Os híbridos plug-in exigem disciplina para carregar regularmente, caso contrário, consomem mais do que um carro a gasolina.
E como funciona um carro a GPL?
Os carros a GPL Autogás continuam a despertar o interesse de muitos portugueses. Estes veículos usam Gás de Petróleo Liquefeito (uma mistura de propano e butano) que, ao ser comprimido, passa a estado líquido. Este combustível alimenta o motor através de um sistema com reservatório, redutor de pressão e injetor, garantindo uma combustão mais eficiente e limpa.
A principal diferença em relação à gasolina e ao gasóleo está no consumo e nas emissões. O GPL queima de forma mais completa, libertando menos dióxido de carbono e partículas poluentes. Além disso, os motores a Autogás produzem menos ruído (cerca de menos 30%), o que os torna ideais para a circulação em meio urbano.
Do ponto de vista financeiro, a poupança é evidente. O preço por litro do GPL é consideravelmente inferior, permitindo reduzir a fatura mensal de combustível. Como muitos modelos são bi-fuel (gasolina + GPL), é possível alternar entre gasolina e GPL, aumentando a autonomia e oferecendo mais liberdade ao condutor. Assim, esta é outra alternativa fiável e amiga do ambiente.
Contudo, também existem desvantagens. Há um menor número de postos que permitem o abastecimento de carros a GPL, a conversão para GPL é dispendiosa e estes carros estão condicionados a parques de estacionamento descobertos.
Leia ainda: Combustível GPL: vale a pena?
Incentivos fiscais e benefícios para veículos “verdes”
Portugal continua a incentivar a mobilidade elétrica e de baixas emissões. Em 2025, o Fundo Ambiental disponibilizou 4.000 euros por veículo 100% elétrico novo até 38.500 euros, para pessoas singulares, desde que haja o abate de um carro a combustíveis fósseis com mais de 10 anos. No anúncio, estavam previstos 1.425 incentivos nesta tipologia.
Nota: Até à data da criação deste guia, tinham sido submetidas 785 candidaturas na categoria T1.1 (Veículo Ligeiro de passageiros 100% elétricos – Pessoa Singular), de acordo com o site do Fundo Ambiental. Das 785 candidaturas, 690 foram aprovadas. Ou seja, se os dados publicados estão atualizados, ainda há margem e verba para candidatar-se a este incentivo.
Além disso, há isenção de ISV e de IUC. É outro fator atrativo para quem opta por um veículo elétrico. Já quem instalar carregadores em condomínios multifamiliares pode receber 80% do valor de aquisição (até 800 euros) e 80% da instalação elétrica associada (até 1.000 euros por lugar de estacionamento).
Comprar carro elétrico ou híbrido: Vantagens e desafios
Os carros elétricos oferecem custos por quilómetro muito mais baixos do que os carros a combustão, não emitem gases de escape e requerem menos manutenção porque têm menos peças móveis. A condução é silenciosa e suave, e os incentivos fiscais reduzem o custo total.
Contudo, exigem planeamento. A autonomia pode ser insuficiente para viagens longas e os tempos de carregamento ainda são superiores ao abastecimento de combustível. Além disso, o preço de compra continua a ser mais elevado do que os equivalentes a gasolina ou gasóleo.
Os híbridos são uma solução intermédia. Os híbridos convencionais carregam a bateria durante a condução e são eficientes no trânsito urbano. Já os plug-in podem ser carregados na tomada e têm maior autonomia elétrica, mas só cumprem as promessas de baixo consumo se forem carregados com frequência.
Leia ainda: Como escolher um veículo elétrico adequado às minhas necessidades
Diferenças entre um carro elétrico e um carro híbrido
Um carro elétrico (BEV) funciona exclusivamente com energia elétrica e não tem motor de combustão. Requer carregamentos regulares e planeamento de autonomia, mas não emite gases de escape e tem custos de manutenção reduzidos.
Um carro híbrido (HEV) combina um motor a combustão com um motor elétrico que carrega durante a condução. É eficiente em cidade, mas o motor a gasolina ou gasóleo assume o papel principal em estrada.
Já o híbrido plug-in (PHEV) tem uma bateria maior, carregável na tomada, e pode percorrer dezenas de quilómetros em modo elétrico. Se não for carregado, perde a vantagem e pode até consumir mais do que um carro convencional.
A escolha deve considerar os percursos habituais, o acesso a pontos de carregamento e o orçamento disponível.
Autonomia, carregamentos e custos de bateria
Na compra de carro elétrico, a bateria é o componente mais caro e determinante para o desempenho e o valor de revenda.
Verifique a capacidade útil da bateria (em kWh), os consumos médios do modelo (kWh/100 km) e a autonomia homologada. Em condução real, fatores como temperatura, peso transportado, velocidade e uso do ar condicionado podem reduzir a autonomia em 20% a 30%.
Carregar em casa é a opção mais económica, com custos médios por 100 km muito inferiores aos do gasóleo ou gasolina. Já os carregadores rápidos públicos têm preços mais altos. Evite carregar sempre a 100% ou deixar a bateria esgotar completamente, para prolongar a sua vida útil.
Se comprar usado, peça um relatório do estado de saúde da bateria (SOH). Algumas marcas oferecem garantias específicas sobre a bateria, que podem ir até 8 anos ou 160.000 km.
Leia ainda: Como escolher o melhor carregador para o seu carro elétrico
Apoios do Estado e poupança a longo prazo
Os apoios públicos podem reduzir substancialmente o custo de aquisição de veículos elétricos e híbridos plug-in, mas exigem planeamento e rapidez.
Em 2025, as candidaturas aos incentivos do Fundo Ambiental abriram a 31 de março e decorrem durante 45 dias ou até esgotar a verba. As candidaturas são submetidas exclusivamente online (na página do Fundo Ambiental) e são aprovadas por ordem de entrada.
Leia ainda: Apoios à compra de um carro elétrico disponíveis desde 31 de março
Além do apoio direto à compra, existem benefícios fiscais relevantes: os veículos elétricos estão isentos de ISV e de IUC, e as empresas podem deduzir o IVA e aplicar taxas de tributação autónoma reduzidas. Estes fatores tornam os elétricos mais competitivos no longo prazo, compensando o preço de aquisição mais elevado.
Para maximizar a poupança, avalie ainda a possibilidade de instalar um carregador doméstico em casa ou no condomínio. Embora exija um investimento inicial, o custo por quilómetro carregado em casa é muito inferior ao dos postos rápidos públicos ou do combustível fóssil.
Leia ainda: A instalação de postos de carregamento de veículos elétricos em condomínios

Negociar o preço: Estratégias para poupar na compra de carro
Nem todos os compradores tentam negociar o preço de um carro, mas essa pode ser uma das formas mais eficazes de poupar milhares de euros.
Comece por fazer uma pesquisa detalhada do preço médio do modelo que pretende, em concessionários diferentes e em plataformas online. Leve essa informação consigo para fundamentar a sua proposta. Os stands têm margem para baixar o preço ou oferecer extras, mas raramente o fazem se não sentirem que o comprador está informado.
Negocie sempre o preço total e não apenas a prestação mensal. Focar-se só na mensalidade pode levá-lo a aceitar prazos mais longos e juros mais altos. Se tiver um carro para retoma, só o mencione depois de obter o melhor preço possível pelo novo veículo, para não diluir o desconto.
Se não conseguir baixar o valor, tente obter ofertas de manutenção, revisões incluídas, pneus novos ou extensão da garantia.
Comparar concessionários e plataformas online
A digitalização do setor automóvel trouxe novas oportunidades de poupança, mas também novos riscos.
Os concessionários oferecem segurança e apoio pós-venda, mas tendem a praticar preços mais altos. Já as plataformas online têm maior diversidade de ofertas e preços mais competitivos, mas exigem mais cuidado na verificação do estado do carro e da idoneidade do vendedor.
Antes de fechar negócio, pesquise avaliações do stand ou da plataforma, confirme se está registado como comerciante automóvel no portal da Autoridade Tributária e peça sempre contrato escrito e fatura. Nunca transfira dinheiro sem ver o carro, a documentação e o contrato de compra e venda devidamente assinado.
Nas compras à distância, tenha especial atenção ao direito de livre resolução: nem todos os vendedores o aceitam, e pode haver limites de quilometragem e condições específicas para devolver o carro.
Lembre-se: em compras à distância, pode haver direito de livre resolução de 14 dias, com regras sobre depreciação pelo uso acima do necessário para inspeção.
Verifique custos de entrega, garantia e inspeção. Em caso de importados, valide homologação, ISV e documentação antes de pagar.
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Dicas para negociar extras ou descontos
Os extras e equipamentos opcionais podem inflacionar o preço de um carro em milhares de euros. Decida antecipadamente quais são indispensáveis e quais pode dispensar.
Negocie os extras separadamente do valor base do carro. Muitos concessionários têm campanhas que oferecem equipamentos sem custo adicional, mas só os atribuem a quem os pede. Sistemas de navegação integrados, jantes especiais, pintura metalizada e pacotes tecnológicos são áreas onde há maior margem de negociação.
Se comprar um carro novo em stock, é mais fácil conseguir descontos do que em carros por encomenda. Os stands estão mais dispostos a baixar preços para libertar espaço e cumprir objetivos de vendas. No fim do trimestre ou do ano, a pressão para cumprir metas também aumenta, o que pode jogar a seu favor.
Concentre-se no valor total entregue (preço – retoma + serviços). Peça manutenção por 2 anos, extensão de garantia ou pneus novos em usados. No financiamento, ataque comissões de dossiê, TAEG e seguros acessórios. Em elétricos, negocie cabo modo 3, cartão de carregamento e wallbox com instalação
Test-drive: É realmente essencial antes de decidir?
O test-drive continua a ser uma etapa muitas vezes ignorada, mas é decisiva. Só ao volante é possível avaliar se o carro corresponde ao que espera e se se adapta ao seu estilo de condução.
Um ensaio de 15 minutos não é suficiente. Peça para conduzir em diferentes tipos de estrada, com subidas, descidas e curvas. Se possível, conduza em piso irregular para testar o conforto da suspensão e faça uma travagem de emergência para avaliar a resposta dos travões.
Aproveite o test-drive para verificar a posição de condução, a visibilidade, o ruído no habitáculo e a ergonomia dos comandos. Pequenos incómodos podem tornar-se problemas sérios no uso diário. Leve tempo e não tenha receio de fazer perguntas ao vendedor.
O que observar durante o teste
Durante o test-drive, mantenha-se atento a todos os sinais do carro. Ruídos estranhos, vibrações, mudanças duras ou direção imprecisa podem indicar problemas mecânicos dispendiosos.
Veja se o carro arranca bem a frio, se o motor mantém um ralenti estável e se o sistema de travagem atua de forma progressiva. Teste todos os sistemas eletrónicos, desde o ar condicionado aos sensores de estacionamento.
Verifique também a visibilidade exterior, o tamanho dos espelhos e a facilidade de manobras em espaços apertados. Num carro elétrico, confirme a autonomia prevista e a eficiência média durante o percurso.
Se detetar alguma anomalia, peça explicações ao vendedor e não hesite em levar o carro a um mecânico independente antes de fechar negócio.
Avaliar conforto, ruído e resposta do motor
Para quem vai passar muitas horas ao volante, o conforto é tão importante como a fiabilidade.
Verifique se os bancos oferecem bom apoio lombar e ajustamentos suficientes. Avalie o espaço para as pernas, cabeça e ombros em todos os lugares, especialmente se tiver filhos ou transportar regularmente passageiros adultos.
Teste o isolamento acústico em diferentes velocidades. Um habitáculo demasiado ruidoso aumenta o cansaço e reduz a segurança. Confirme se a climatização é eficaz e se o sistema de infoentretenimento é intuitivo e responsivo.
Por fim, avalie a resposta do motor em acelerações, ultrapassagens e retomadas. A potência anunciada no papel nem sempre se traduz em agilidade no mundo real. Um carro pode ser rápido mas pouco confortável, ou confortável mas com pouca força para estrada.
Casos reais: Crédito, transferência e seguro automóvel
Exemplos reais de crédito automóvel: O impacto do prazo e da taxa no custo final
O custo de um crédito automóvel não depende apenas do valor emprestado. A taxa de juro (TAN e TAEG), o prazo escolhido e até o perfil do cliente podem alterar de forma expressiva o valor da prestação mensal e o montante total a pagar.
Para perceber como estas variáveis influenciam o custo real do crédito, analisámos dois casos concretos: um financiamento curto de três anos e outro com prazo alargado de dez anos. As simulações baseiam-se em propostas reais de crédito automóvel com condições distintas.
Caso 1 – Crédito de 11.000 euros pago em 3 anos
O João Marques tem 34 anos, é Team Leader e trabalha de forma efetiva desde 2014. Recentemente, decidiu financiar a compra de um carro usado através de um crédito automóvel de 11.000 euros, com um prazo de 36 meses.
Tendo em conta os requisitos e perfil do João, o Doutor Finanças apresentou a proposta de um dos seus parceiros com uma TAN de 6,25% e uma TAEG de 8,9%, com prestação fixa de 337,14 euros. No final dos três anos, o João terá pago cerca de 12.400 euros, o que representa mais 1.400 euros em custos de juros e encargos sobre o valor emprestado.
Por se tratar de um prazo curto e uma taxa competitiva, este crédito é financeiramente equilibrado. A prestação é mais exigente para o orçamento mensal, mas o MTIC (Montante Total Imputado ao Consumidor) mantém-se controlado. É o tipo de financiamento ideal para quem quer liquidar o empréstimo rapidamente e evitar acumular juros ao longo do tempo.
Caso 2 – Crédito de 10.000 euros pago em 10 anos
Já a Maria Ferreira, de 33 anos, optou por um crédito automóvel de 10.000 euros, mas com prazo de 120 meses (10 anos). Para os requisitos solicitados, foi possível apresentar uma TAN de 10,2% e uma TAEG de 11,6%, sem comissão de abertura.
Com uma prestação mensal de 137,97 euros, a oferta parece mais leve para o orçamento. No entanto, o MTIC sobe para 16.556 euros, o que significa mais 6.556 euros face ao valor financiado. Este aumento resulta do prazo longo e da taxa mais elevada, que fazem acumular juros durante uma década.
Este é um crédito que oferece folga financeira mensal, mas obriga a pagar quase o dobro em juros a longo prazo. Uma escolha que pode fazer sentido para quem precisa de reduzir a taxa de esforço, mas que encarece o custo total do empréstimo.
Casos de transferência de um crédito automóvel
Na transferência de crédito automóvel, a instituição liquida o crédito anterior e abre um novo contrato com as condições em vigor. As vantagens surgem quando baixa a TAN mantendo o prazo, reduzindo prestação e MTIC, ou quando se alarga o prazo (até 120 meses) para aliviar a mensalidade. Porém, a última solução tem a desvantagem de o cliente pagar mais juros no total.
Já as taxas variam com o montante e o prazo. Nos financiamentos a partir de 7.500 euros, a TAN é mais baixa nos prazos curtos (8,00% aos 24–30 meses) e sobe gradualmente com a duração: 9,00% aos 36–48 meses; e 10,20% entre 102 e 120 meses. Já nos montantes inferiores (≤ 7.250 euros), as TAN são mais elevadas, entre 11,10% e 12,24%, mesmo em prazos curtos e médios. Ou seja, quanto maior o montante e mais curto o prazo, melhor será a taxa.
Nota: Estas taxas têm como referência as condições de um dos parceiros do Doutor Finanças.
Abaixo, apresentamos dois casos práticos com objetivos diferentes.
Transferir para baixar o custo total do financiamento
A Paula Cardoso tinha um crédito automóvel com um capital em dívida de 12.000 euros, com uma TAN de 11% e faltavam 48 meses para liquidar o financiamento. Este crédito tinha um peso significativo no seu orçamento familiar, pois representava uma prestação mensal de 310,15 euros. O objetivo da Paula era conseguir uma TAN mais baixa, mantendo o mesmo prazo, de forma a conseguir reduzir o custo total do seu crédito.
Olhando para o objetivo da Paula, foi possível apresentar uma proposta onde consegue transferir o crédito para uma nova instituição obtendo uma redução da TAN para 9%. O capital em dívida mantém-se de 12.000 euros e com um prazo de 48 meses.
Esta transferência permite passar de uma prestação mensal de 310,15 euros, com um crédito que tem juros totais de 2.887,02 euros para uma mensalidade de 298,62 euros, reduzindo os juros totais para 2.333,78 euros.
Ou seja:
- A prestação baixa 11,53 euros por mês;
- E há uma poupança em juros de 553,24 euros.
Nota: Esta solução permitiu à Paula eliminar a reserva de propriedade, ficando o carro totalmente em seu nome.
Transferência com foco total na redução da prestação mensal
No caso da Sofia Simões, a cliente tinha um crédito automóvel com um capital em dívida de 10.000 euros, com uma TAN de 9,75% e faltavam 60 meses para liquidar o financiamento. Mensalmente, este financiamento representava uma prestação de 211,24 euros. O objetivo da Sofia ao transferir o seu crédito automóvel era a redução da prestação mensal o mais rápido possível para aliviar o seu orçamento mensal.
Perante este objetivo, a melhor solução no mercado seria um aumento ligeiro da TAN para 9,99% e passar para um contrato de 96 meses, a começar do zero.
Assim, a transferência do capital em dívida de 10.000 euros permite passar de uma prestação mensal de 211,24 euros, (juros totais de 2.674,55 euros) para uma mensalidade de 151,69 euros (aumento dos juros totais para 4.562,12 euros com a extensão do prazo para 96 meses).
O impacto conseguido é:
- Redução da prestação em 56,55 euros por mês;
- Com um aumento de juros de 1.887,57 euros.
Nota: A Sofia conseguiu aumentar o prazo para ter um alívio imediato no seu orçamento. Porém, ao começar um novo crédito com um prazo de 96 meses, este fica mais caro em comparação com a solução anterior. Por isso, esta deve ser uma decisão ponderada para quem precisa de reduzir a sua taxa de esforço.
Exemplos reais de apólices de seguro automóvel
O prémio do seguro automóvel pode variar bastante de seguradora para seguradora, mas também dentro da mesma entidade. Afinal, o local de residência, a idade do condutor, a experiência de condução e o tipo de carro podem alterar de forma significativa o preço do seguro automóvel.
Para perceber como estas variáveis influenciam o prémio, analisámos quatro simulações realizadas pelo Doutor Finanças – duas de jovens condutores e duas de motoristas experientes, residentes em Lisboa e em Viseu – com base em propostas da Zurich Portugal.
Caso 1 – Jovem condutor de 20 anos a viver em Lisboa
O Carlos Pinto tem 20 anos, reside em Oeiras e tirou a carta em janeiro de 2025. O veículo segurado é um SEAT Leon 2.0 TDI Sport Up DSG de 2006, com o valor de 7.950 euros.
Coberturas pedidas e capitais propostos:
- Responsabilidade Civil (RC): 7.750.000 euros, sem franquia
- Danos corporais: 6.450.000 euros
- Danos materiais: 1.300.000 euros
- Assistência em viagem e proteção jurídica: incluídas;
- Acidentes pessoais do condutor: morte ou invalidez permanente até 10.000 euros;
- Despesas de tratamento e repatriamento: 750 euros;
- Quebra de vidros: 1.500 euros, com franquia de 50 euros.
Custo do seguro: o prémio anual é de 1.107,82 euros, já com custos administrativos. Caso opte pelo pagamento trimestral, o valor é de 323,53 euros no primeiro recibo e 315,45 euros nos seguintes. Se optar pelo pagamento mensal, o Carlos fica com uma mensalidade de 105,13 euros após o primeiro recibo.
Caso 2 – Se o Carlos vivesse em Viseu
Para perceber o impacto da localização no prémio do seguro automóvel, foi feita outra simulação com o perfil do Carlos, do seu veículo e com as mesmas coberturas e capitais. Porém, mudou-se a área de residência para Viseu.
Com esta alteração, o custo do seguro automóvel passa a: um prémio anual de 855,60 euros, cerca de 250 euros a menos do que em Lisboa. A nível de prestações, se o pagamento for trimestral, o valor seria de 250,03 euros no primeiro recibo e 247,07 euros nos seguintes. Caso o pagamento fosse mensal, o custo baixaria para 82,44 euros após o primeiro pagamento.
Assim, é possível concluir que a idade e a pouca experiência pesam no cálculo do risco. Além disso, Lisboa apresenta índices de sinistralidade mais elevados, o que encarece ainda mais o prémio.
Ou seja, este é um exemplo claro de como ser jovem e conduzir numa zona urbana densa implica pagar mais por proteção básica. Tendo em conta o mesmo perfil e veículo, só a alteração para o distrito de Viseu, onde o tráfego e a sinistralidade são menores, reduz o risco para a seguradora, reduzindo o prémio em cerca de 23% face a Lisboa.
Caso 3 – Condutor experiente de 41 anos residente em Lisboa
Para comparar o impacto que a experiência e a idade têm no prémio do seguro automóvel, apresentamos a simulação de seguro auto de danos próprios do Ricardo Lopes. O Ricardo tem 41 anos, reside em Lisboa, tem quase duas décadas de carta de condução e possui um BMW 118D de 2017, com valor declarado de 19.800 euros.
Seguro de danos próprios:
- Responsabilidade Civil: 7.750.000 euros;
- Danos próprios: valor do veículo 19.800 euros;
- Franquia: 500 euros;
- Coberturas adicionais: Assistência em viagem, proteção jurídica, fenómenos da natureza, incêndio, roubo e quebra isolada de vidros (1.500 euros, sem franquia).
Custo do seguro: o prémio anual total é de 682,70 euros. Caso o Ricardo opte pelo pagamento trimestral, o valor é de 204,80 euros no primeiro recibo e 198,63 euros nos seguintes. Se optar pelo pagamento mensal, fica com uma mensalidade de 65,20 euros após o primeiro recibo.
Caso 4 – Se o Ricardo vivesse em Viseu
Tendo em conta o perfil do Ricardo e o seu veículo, se ele não vivesse em Lisboa, mas em Viseu, o mesmo seguro de danos próprios teria um prémio anual de 552,73 euros. Ao optar pelo pagamento trimestral, o valor seria de 166,21 euros no primeiro recibo e 163,38 euros nos seguintes. Caso aderisse ao pagamento mensal, o custo seria de 54,12 euros após o primeiro pagamento.
Ou seja, a mudança de residência reduzia o prémio anual em 129,97 euros, tornando-se na opção mais barata, mesmo com mais coberturas e um veículo mais caro.
Análise dos diferentes casos
Olhando para estes quatro casos, é notório que a idade, a experiência de condução, um histórico longo sem sinistros e a área de residência alteram o nível de risco dentro de uma seguradora. E quanto menor for o risco, mais baixo o valor do prémio, mesmo com coberturas mais amplas.
No final, o custo reflete a estabilidade e o bom perfil do cliente, sendo possível um seguro de danos próprios de condutor experiente ter um prémio anual inferior ao seguro básico de um jovem que vive em Lisboa.
Como garantir que a compra de carro é um bom investimento
Um carro não é um investimento no sentido financeiro: desvaloriza desde o momento em que sai do stand. Mas pode ser uma decisão financeira inteligente se for planeada com rigor.
Para garantir isso, escolha um modelo fiável, com custos de manutenção baixos e bom valor residual no mercado de usados. Faça uma manutenção rigorosa e mantenha todos os comprovativos de revisões e reparações, pois valorizam o carro na hora de o vender.
Evite alterações estéticas ou mecânicas que possam desvalorizar o veículo e cumpra todos os prazos de inspeções e seguros para preservar o histórico legal. Se possível, opte por comprar com capitais próprios ou através de um financiamento com TAEG baixa e prazo curto, para reduzir os juros totais.
Acima de tudo, só compre um carro se tiver margem financeira para suportar os custos fixos e variáveis. Um carro deve ser uma ferramenta para melhorar a qualidade de vida, não um fardo que compromete o orçamento familiar. Planeie, compare e decida com base na razão, não na emoção.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
